sábado, 22 de junho de 2013

O CLAMOR DAS RUAS

            Foi-se a época em que promover uma passeata dependia de difíceis acordos e extensos preparativos. A internet simplificou tudo. O toque de reunir acontece num piscar de olhos, com imediatos resultados. Basta ver as multidões que têm invadido praças, ruas e avenidas das principais cidades brasileiras, protestando contra os desmandos governamentais. As redes sociais transformaram-se em infalível meio de mobilização popular.
            De início, até o governo acreditou que fosse apenas uma reação contra o aumento das tarifas de ônibus e os gastos oficiais com a Copa do Mundo.
            O desenrolar dos fatos deixou expostas, entretanto, muitas outras contrariedades.
            Em artigo publicado por O Globo (19.6), o jornalista Zuenir Ventura comentou que “... o sentimento difuso de insatisfação é cumulativo e não depende apenas de uma única motivação ou pretexto. Vem vindo, vem vindo até que uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o transbordamento. Os sinais emitidos nem sempre são captados, porque parecem desconectados, quando na verdade estão formando uma rede com poder de contágio”. Segundo ele, “só o governo talvez não tenha percebido que o fantasma da inflação, a corrupção desenfreada, a incerteza econômica, a alta no custo de vida, a queda de oito pontos na popularidade Dilma, a vaia no estádio Mané Garrincha, tudo isso fazia parte do mesmo e crescente caldo de rejeição”.
            O país foi tomado e ainda está sob efeito de um movimento sem precedentes. Um enorme tsunami cívico, com ondas de revolta capazes de inundar os mais protegidos redutos onde políticos e autoridades se escondem para engendrar falcatruas. Os manifestantes fizeram questão de fincar bandeira no teto do Congresso Nacional, mostrando não haver fortalezas inexpugnáveis, quando se trata de defender interesses legítimos.
            A revolta se compara, ainda, a imenso vômito produzido por um povo que resolveu botar pra fora sapos, cobras e lagartos que há muito vem sendo obrigado a engolir. E o faz com independência, não apenas dispensando, mas proibindo ajudas sindicais e político-partidárias.
            Espantados  com a estridência e com o endereçamento dos gritos, os políticos enfiaram a viola no saco e recolheram-se à sua abominável inutilidade. Por força de seu cargo, apenas a presidente, alguns governadores e poucos prefeitos se arriscaram ou foram obrigados a falar. Quando perceberam o descontrole da situação, não tiveram alternativa senão renderem-se às evidências e elogiarem a manifestação. Mas nenhum deles conseguiu dissimular a perplexidade e a impotência diante dos fatos. Na tentativa de transformar o limão em limonada, expressaram-se de modo inseguro, com a espontaneidade e o entusiasmo de quem agradece a Deus a perda de um bilhete premiado.
            A presidente reconheceu que a mensagem direta das ruas é por mais cidadania, melhores escolas, melhores hospitais, postos de saúde e pelo direito à participação. Admitiu também ser de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público.  Disse estar ouvindo as vozes pela mudança, garantindo que seu governo também quer mais.
            No pronunciamento feito no dia que se seguiu ao início das manifestações, Dilma Rousseff afirmou que “o Brasil hoje acordou mais forte”. Naquele momento não disse, mas certamente sabia que, sitiado, o governo despertou mais assustado, com razão.
Bom se cuidar, pois parece que a bronca só começou.

           

           

                       

 

 

 

 

 

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