sábado, 6 de julho de 2013

POLÊMICA DE PESO

            Qualquer observador, com um mínimo de sensibilidade, percebe que o povo clama por urgentes melhorias no transporte, na segurança, na educação e na saúde públicas. Ao mesmo tempo, cobra austeridade nos gastos oficiais e protesta contra mordomias, privilégios e a corrupção generalizada, exigindo cadeia para os que roubam dinheiro público.
            Respeitada a Lei, muita coisa poderia ser atendida através de portarias, decretos e outras medidas a que o governo recorre, sem constrangimento, sempre que lhe convém.
            Seriam muito bem recebidas, por exemplo, a redução do número de ministérios e de servidores neles pendurados, o corte na quantidade de parlamentares, a extinção dos cartões corporativos e de outras vergonhosas regalias oficiais, afora mais enxugamentos que contribuam para o equilíbrio nas contas do Tesouro.
            Mas o governo se faz de desentendido, não consegue alcançar ou, na pior das hipóteses, ignora o recado das ruas.
            Como se quisesse desviar a atenção popular, preferiu tirar da gaveta uma reforma política que adormecia em algum arquivo de Brasília. E tenta praticá-la através de um plebiscito criticado até por petistas.
            “Quem pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir”, desabafou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), reconhecendo que os protestos de ruas tiveram outra motivação.
            Em nota assinada por Aécio Neves (PSDB), José Agripino Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS), os três maiores partidos oposicionistas disseram que “a iniciativa do plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país”.
            Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), acha que as medidas propostas pela presidente estão sendo elaboradas com "açodamento" e que é preciso "entender melhor esse novo Brasil que nasceu das ruas".
            A presidente Dilma Rousseff, entretanto, mostra-se convicta de que o plebiscito será o meio adequado de escutar os brados da sociedade. Para ela, a melhoria da representatividade passa pela participação popular.
            Em princípio, o Planalto quer que a população seja ouvida sobre financiamento de campanha, sistema de votação, término dos suplentes no Senado, voto secreto no Parlamento e fim das coligações partidárias.
            Pelo menos os leigos acham que essas questões não requerem um complexo e dispendioso plebiscito. Até porque são facilmente presumíveis algumas opções do povo, como o fim do voto secreto no Congresso e a extinção dos suplentes que se tornam senadores, sem nunca terem sido votados. Pensam que a solução poderia vir de emendas à Constituição.
            A polêmica é válida, pois a reforma política é tão importante e necessária quanto a tributária e a administrativa; todas há muito reclamadas. Mas não convém que aconteçam de forma apressada e casuística.
            Não se pode confundir urgência com precipitação, nem planejamento com improvisação. O povo cobra atitudes e realizações, mas não aceita continuar pagando por equívocos, omissões e caprichos político-administrativos. Chega! 

Jornal de Domingo

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