sábado, 10 de agosto de 2013

PASSEIOS ESQUECIDOS

            Nas cidades civilizadas, as calçadas são mais que simples vias onde transitam pedestres. São também locais de convivência em que pessoas se veem, trocam cumprimentos e até se detêm em longas conversas.  Fazem parte da vida do cidadão, ligando-o aos serviços de que se utiliza e lugares que frequenta. Costumam ser, ainda, atrações turísticas, como a “Calçada da Fama” em Hollywood (USA), ou as mundialmente admiradas calçadas portuguesas, tão bem representadas pelo calçadão da Praia de Copacabana.
Com o trânsito cada vez mais caótico e a precariedade do transporte público, andar transformou-se em boa alternativa para os deslocamentos pessoais. Conforme levantamento do IBGE (2010), cerca de 30% das locomoções cotidianas são realizadas a pé. Não só por ser uma opção saudável, que permite interagir com a cidade e seus moradores, mas devido ao elevado custo do transporte público. São necessárias, pois, calçadas adequadas, em quantidade e qualidade capazes de atender a crianças, jovens, adultos, idosos e deficientes físicos.
Entretanto, a caminhada transformou-se numa prova de obstáculos. Os desafios vão da péssima condição dos passeios públicos, cheios de buracos, desníveis, degraus, alagamentos e outras deficiências, até sua ocupação por bancas de revistas, camelôs, cavaletes publicitários, filas de bancos, financeiras e casas lotéricas, entulhos, mesas de bares e outras parafernálias. Sem falar nos incômodos pedintes, malandros e drogados que se agrupam em certos pontos, constrangendo os transeuntes.
Defensores desse espaço essencial para garantir a mobilidade urbana, os pernambucanos Francisco Cunha (consultor de empresas) e Luiz Helvécio (engenheiro) escreveram o livro “Calçada: o primeiro degrau da cidadania urbana”. Na obra advogam a ideia de que o desrespeito à calçada é também um desrespeito ao direito de ir e vir, comum a todo cidadão.
Na opinião de Cunha, “sem podermos trafegar por calçadas seguras, desobstruídas e regulares, estamos impedidos – ou não podemos fazê-lo dignamente –, de chegar ao trabalho, à residência, à escola e ao transporte público. Ficamos isolados ou gravemente restringidos por carros invasores, barracas, lixo, esgotos estourados e inúmeros outros abusos que atormentam a vida do cidadão pedestre”.
A importância de preservar e construir calçadas cresce na proporção direta do vertiginoso aumento da frota de veículos. Com as ruas tomadas por automóveis, caminhões, motos e bicicletas, o pedestre se sente cada vez mais confinado nos passeios públicos.
O problema é nacional, com ênfase nas localidades onde a prefeitura é mais omissa e a comunidade menos zelosa dos próprios interesses.
Nesse contexto, Valadares deixa muito a desejar. De modo geral, suas calçadas encontram-se em estado lastimável. A necessidade de revitalizá-las há muito caiu no esquecimento do Poder Público e da maior parte dos proprietários de imóveis. Que o digam os idosos, os cadeirantes, os pais que gostariam de usar carrinhos de bebê, e tantos outros.
Os especialistas em mobilidade urbana asseguram que a qualidade das calçadas é o melhor indicador de desenvolvimento humano, além de funcionar como um sensor para medir o nível de civilidade de um povo. Não há o que contestar!
 

 

 

 

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