Para ele importa preservar
o que é seu, sem prejudicar o equilíbrio entre o que ganha e os gastos com
sustento da família, aluguel, escola, plano de saúde, transporte, serviços
públicos e outros compromissos, além de exorbitantes impostos. Se pelo menos
houver empate, tudo bem; do contrário, lascou-se.
Quando,
por milagre, sobra algum trocado, a tendência é abrir uma caderneta de
poupança, pensando no futuro. Tornou-se a melhor alternativa, por ser uma
aplicação teoricamente imexível, inclusive nos seus rendimentos.
Mas
houve momentos em que ficou o dito pelo não dito. Nos planos econômicos Bresser
(1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991), o governo recorreu a
congelamentos que também afetaram os índices da caderneta de poupança. Meteu a
mão em dinheiro alheio.
A
reação foi grande. Muitos poupadores foram à justiça, para questionar os novos
cálculos. Os números são contraditórios, mas entre individuais e coletivas, existem
milhares de ações tramitando nas diferentes instâncias do Judiciário.
Há
controvérsia quanto ao montante a ser pago aos poupadores, caso o Supremo
Tribunal Federal (STF) decida pela inconstitucionalidade daqueles planos. Nas
contas do Banco Central, ficaria em torno de R$ 150 bilhões. Mas o Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor vê exagero nessa estimativa. Segundo seus
cálculos, seriam pouco mais de R$ 8 bilhões.
Durante
anos, essas ações mereceram pouca atenção dos reclamados, que quase não acreditavam
na possibilidade de elas prosperarem. Equivocados, e chegada a hora de a onça
beber água, entraram em desespero; fazem de tudo para se livrar de uma pesada
derrota.
O
medo é tanto que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini, procuraram os ministros do STF, para tentar
convencê-los de que uma eventual decisão favorável aos poupadores poderá
acarretar graves perdas econômicas. Isso o povo está vendo e talvez até
compreenda: a defesa faz parte do jogo.
Inaceitável,
entretanto, é o acintoso lobby que vem acontecendo através dos meios de
comunicação, com o indisfarçável propósito de confundir a opinião pública e
forçar uma decisão em favor dos banqueiros.
Jornais
e revistas dos últimos dias estamparam afirmações de que uma vitória dos
poupadores, se confirmada, ameaçaria o sistema financeiro, com risco de
quebradeiras. Afora outros argumentos alarmantes, chegou-se ao descaramento de criticar
o fato de os R$ 150 bilhões deixarem de ser lucro, para transformar-se em
prejuízo dos bancos, assim descartando o recolhimento de R$ 60 bilhões de
imposto de renda e outros tributos. Quanto a isso, os defensores do calote
certamente desconsideram que o governo tem faturado sobre esses valores,
enquanto estão em poder dos bancos. E continuará faturando, à medida que,
devolvidos a seus legítimos donos, forem injetados na economia.
Outra vez o Brasil
corre o risco de mostrar ser um país onde os pequenos só ganham quando perdem
pouco.
Os homens do dinheiro,
habituados a expressivos lucros, não podem sofrer prejuízos. Os assalariados,
aposentados e outros pequenos aplicadores podem. Impossível entender, tampouco
aceitar!
Ainda
bem que a questão está nas mãos do STF, onde começou a ser julgada, na última
quarta-feira. Ali o presidente Joaquim Barbosa tem se mostrado implacável
justiceiro. Não se curvou diante de prepotentes mensaleiros, e também não o
fará perante gananciosos banqueiros. É no que se confia!
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