O primeiro debate político na TV aconteceu em
1960, entre Richard Nixon e John Kennedy, que, à época, disputavam a
presidência dos Estados Unidos.
Desde então, virou costume
universal, capaz de influir decisivamente no resultado de uma eleição.
No Brasil, ganhou
popularidade nas eleições presidenciais de 1989, quando Luiz Inácio Lula da
Silva e Fernando Collor de Mello, já finalistas, quase se engalfinharam diante
das câmaras. Protagonizaram dois antológicos confrontos, marcados pela baixaria
e por ataques pessoais. Tudo mostrado ao vivo e a cores, por uma cadeia de
emissoras formada por Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT.
Depois disso, os
debates adquiriram crescente e indiscutível importância.
Na atualidade, são
bem mais atraentes e influentes do que as apresentações no horário eleitoral
gratuito, o que nem tanto mérito lhes confere, diante da mediocridade do
programa obrigatório.
Ao pé da letra, debates
são discussões amigáveis entre duas ou mais pessoas que queiram expor suas
ideias ou discordar das demais, sempre tentando impor seu ponto de vista ou
sendo convencidas pelas opiniões opostas. Costumam ser longos e às vezes não levam
a conclusões. Mas são práticas saudáveis, que permitem que sejam apreciados
vários ângulos de uma mesma questão. Podem abranger diferentes temas, inclusive
futebol, política e religião. De modo geral, os debatedores são concisos e miram
a troca de ideias, sem ofensas recíprocas.
O que se vê nas Eleições
2014 está bem longe desse civilizado conceito: os debates se transformaram em
contendas em que a ética, o respeito e as ideias foram para o espaço.
Na primeira parte da
campanha, os candidatos ainda se respeitaram um pouco mais. Nem tanto por
consideração, mais pela preocupação em não inviabilizar possíveis acordos no
segundo turno.
Entretanto, desde o
momento em que a disputa ficou entre Aécio Neves e Dilma Rousseff, os dois
colocaram as garras de fora e partiram pro vale-tudo.
O debate promovido
pela TV Bandeirantes, repleto de acusações de corrupção e nepotismo, foi logo
comparado com uma sangrenta luta de UFC. Pensava-se que Dilma levaria um
“chocolate” de Aécio. Isso não aconteceu. Acuada no início, ela conseguiu
reagir e foi para o contra-ataque. Ao final, arrancou “glorioso” empate, que,
para o tucano, teve certo gosto de derrota.
No segundo confronto,
levado ao ar pelo SBT, prevaleceu a troca de farpas entre os candidatos a
respeito das denúncias de corrupção envolvendo seus partidos. Mas o resultado
foi diferente. Dessa feita, na análise do jornalista Ricardo
Noblat, “Aécio impôs sua agenda, rebateu os ataques de Dilma, com calma, lógica
e argumentos bem pensados, e foi impiedoso”. Referindo-se ao mal-estar que a
presidente sofreu no final, Noblat concluiu: “Ela saiu nocauteada, não é força
de expressão”.
Embora
não envolvendo discussões mais aprofundadas acerca dos grandes temas de
interesse nacional, os debates, (ou embates, como queiram) não parecem muito
fora do agrado popular.
Não são
poucos os indícios de que, no fundo, o brasileiro gosta mesmo é de “ver
sangue”. Até o famoso “paz e amor” lhe parece mais gostoso quando ao molho
pardo. A dúvida é se vale a pena mudar essa tendência.
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce
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