domingo, 23 de novembro de 2014

ESCRAVOS DA AMBIÇÃO

            Não são muitas as datas históricas que o brasileiro reverencia com grande pompa.
            Entre as poucas estão o Dia de Tiradentes, o Dia da Independência e a Proclamação da República.
            São elas, de fato, ocasiões dignas de exaltação, por lembrarem importantes momentos da biografia nacional.
            Há outras, também significativas, mas menos prestigiadas. De modo geral, são comemoradas sem muito estardalhaço, quando não passam despercebidas. É o caso, por exemplo, do Dia do Descobrimento e do Dia da Bandeira, lembrados apenas em escolas, unidades militares e outros ambientes mais restritos.
            Num ponto intermediário está o Dia da Abolição da Escravatura, que, em maior ou menor nível, é sempre marcado por solenidades públicas um pouco mais esmeradas.
            Pelo seu alcance social e, sobretudo, humanitário, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1988, está entre os maiores marcos de nossa história.  Foi ela que aboliu a escravidão no Brasil, pondo fim a um longo período de sofrimentos.
            Atualmente, além do Código Penal Brasileiro, que cuida especificamente do assunto, há extensa legislação criminalizando e punindo o ato de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo”. Nesse meio, está o preceito constitucional que manda expropriar imóveis onde seja constatada exploração de trabalhos desse tipo.
            Ainda assim, a atrocidade persiste.
            Segundo o relatório Global Slavery Index (Índice de Escravidão Global) 2014, da Fundação Walk Free, divulgado na última segunda-feira (17), o Brasil possui 155,3 mil pessoas submetidas ao trabalho escravo.
            Ainda que represente um decréscimo de 26% em relação à estatística do ano anterior, a quantidade é assombrosa, coisa de fazer a Princesa Isabel exasperar-se no túmulo.
Esses dados mostram que não têm repercutido à altura os esforços do governo e da sociedade, no sentido de exterminar a escravidão no Brasil.
O mais triste é constatar que, além do trabalho forçado, os oprimidos se debatem contra vários outros tipos de abuso.
As argolas e correntes foram rompidas e retiradas dos que eram subjugados pela força “persuasiva” da chibata, dos ferros de marcar e mais atrocidades. Remanesceram, entretanto, os grilhões da ganância, da opressão, do poder econômico, da tirania e da insensibilidade humana.
A impressão é de que o fim da escravidão, propalado em versos e prosas, ainda está longe de ser realidade. Por enquanto, não vai muito além de um sofisma, um “faz de conta” destinado a impressionar o mundo, engrossar os livros de história e inspirar artes plásticas.
Ainda assim, restam esperanças de que, um dia, o bom senso prevaleça, e os mais fortes despertem para uma inexorável realidade: pior do que escravo do trabalho é ser escravo da ambição. A ficha custa a cair, mas, quando cai, machuca! 
           
           




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