É
inacreditável a rapidez com que o tempo passa, tornando distantes episódios
que, no imaginário, parecem ser de ontem.
Nem
parece, por exemplo, que já decorreram 25 anos desde a derrubada do Muro de
Berlim.
Lá
se foram duas décadas e meia, um quarto de século, de um fato que, pelas suas
características, sobretudo a forma inusitada e tranquila como aconteceu,
assombrou o mundo.
Entre
os sensatos, ninguém imaginava que aquele paredão fosse durar tanto quanto as
Muralhas da China. Faltava-lhe sustentação ideológica, justificativa relevante,
algo que lhe conferisse o status de imprescindível e digno de se alojar na
lembrança positiva da humanidade. Por outro lado, nem mesmo os otimistas
supunham que o monstrengo cairia antes de 50 ou 100 anos.
Tinha
como finalidade principal deter o elevado fluxo de gente para a parte ocidental
de Berlim, onde forte retomada econômica pós-guerra oferecia melhores chances
de trabalho e negócios.
Mas
o muro era um trambolho arquitetônico, símbolo da insensibilidade comunista.
Verdadeira catástrofe ideológica causada pela Guerra Fria em que os Estados
Unidos e a União Soviética disputavam a hegemonia mundial.
Começou
a ser erguido na madrugada de 13 de agosto de 1961, logo provocando a separação
de famílias, amigos e de toda uma nação por quase três décadas.
Nos
28 anos em que se manteve de pé, causou sofrimentos e tragédias que jamais se
apagarão da memória coletiva.
Sua
queda, em 9 de novembro de 1989, marcou o fim de um longo período de
hostilidades e de disputas econômicas, filosóficas e militares, entre
capitalistas e marxistas.
Entretanto,
embora exemplar e auspicioso, esse episódio não significou o fim das demais
barreiras existentes, nem desestimulou a construção de outras tantas. Pelo
contrário, a prática tornou-se recorrente, típica do egocentrismo em que
vivemos.
As
Coreias continuam separadas. Na fronteira dos EEUU com o México há um imenso
paredão, o mesmo acontecendo entre Israel e Palestina. Até no Rio de Janeiro
eles foram erguidos, a pretexto de prevenir a expansão das favelas.
Fato é que nos quatro
cantos do mundo os muros são mantidos ou proliferam, aos montes, aprofundando o
abismo entre pretos e brancos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, heteros e
homossexuais, democratas e socialistas, liberais e conservadores, cristãos e
islâmicos, e outras polarizações.
Velhos conhecidos,
eles sempre existiram, separando pessoas e contribuindo para a legitimação de
poderes presumidos. O passar do tempo apenas fez com que se tornassem cada vez
mais sólidos, densos, espaçosos e intransponíveis.
Os mais difíceis de
derrubar nem sempre são físicos e visíveis. Piores são os imateriais, de
natureza política, econômica, social, étnica, moral, intelectual, religiosa e
outras ditadas por paradigmas e regras subjetivas.
Assim como o Muro de
Berlim, uns e outros devem ser exterminados, a bem da humanidade.
Bem pensado, o muro
só é realmente útil em três situações:
nas comunidades, como protetor de imóveis; na vida pública, como refúgio de
maus políticos; na fantasia dos casais, como obstáculo a pular. Afora essas – mas
também às vezes nessas – só traz constrangimentos. E dos grandes!
- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição nº 40
- www.nosrevista.com.br
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