domingo, 7 de dezembro de 2014

MUROS INSANOS

            É inacreditável a rapidez com que o tempo passa, tornando distantes episódios que, no imaginário, parecem ser de ontem.
            Nem parece, por exemplo, que já decorreram 25 anos desde a derrubada do Muro de Berlim.
            Lá se foram duas décadas e meia, um quarto de século, de um fato que, pelas suas características, sobretudo a forma inusitada e tranquila como aconteceu, assombrou o mundo. 
            Entre os sensatos, ninguém imaginava que aquele paredão fosse durar tanto quanto as Muralhas da China. Faltava-lhe sustentação ideológica, justificativa relevante, algo que lhe conferisse o status de imprescindível e digno de se alojar na lembrança positiva da humanidade. Por outro lado, nem mesmo os otimistas supunham que o monstrengo cairia antes de 50 ou 100 anos. 
            Tinha como finalidade principal deter o elevado fluxo de gente para a parte ocidental de Berlim, onde forte retomada econômica pós-guerra oferecia melhores chances de trabalho e negócios.
            Mas o muro era um trambolho arquitetônico, símbolo da insensibilidade comunista. Verdadeira catástrofe ideológica causada pela Guerra Fria em que os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a hegemonia mundial. 
            Começou a ser erguido na madrugada de 13 de agosto de 1961, logo provocando a separação de famílias, amigos e de toda uma nação por quase três décadas.
            Nos 28 anos em que se manteve de pé, causou sofrimentos e tragédias que jamais se apagarão da memória coletiva.
            Sua queda, em 9 de novembro de 1989, marcou o fim de um longo período de hostilidades e de disputas econômicas, filosóficas e militares, entre capitalistas e marxistas.
            Entretanto, embora exemplar e auspicioso, esse episódio não significou o fim das demais barreiras existentes, nem desestimulou a construção de outras tantas. Pelo contrário, a prática tornou-se recorrente, típica do egocentrismo em que vivemos.
            As Coreias continuam separadas. Na fronteira dos EEUU com o México há um imenso paredão, o mesmo acontecendo entre Israel e Palestina. Até no Rio de Janeiro eles foram erguidos, a pretexto de prevenir a expansão das favelas.
Fato é que nos quatro cantos do mundo os muros são mantidos ou proliferam, aos montes, aprofundando o abismo entre pretos e brancos, ricos e pobres, cultos e ignorantes, heteros e homossexuais, democratas e socialistas, liberais e conservadores, cristãos e islâmicos, e outras polarizações.
Velhos conhecidos, eles sempre existiram, separando pessoas e contribuindo para a legitimação de poderes presumidos. O passar do tempo apenas fez com que se tornassem cada vez mais sólidos, densos, espaçosos e intransponíveis.
Os mais difíceis de derrubar nem sempre são físicos e visíveis. Piores são os imateriais, de natureza política, econômica, social, étnica, moral, intelectual, religiosa e outras ditadas por paradigmas e regras subjetivas.
Assim como o Muro de Berlim, uns e outros devem ser exterminados, a bem da humanidade.
Bem pensado, o muro só é realmente útil em três situações: nas comunidades, como protetor de imóveis; na vida pública, como refúgio de maus políticos; na fantasia dos casais, como obstáculo a pular. Afora essas – mas também às vezes nessas – só traz constrangimentos. E dos grandes!

- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição nº 40
-  www.nosrevista.com.br

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