domingo, 1 de junho de 2014

LOUCOS POR FIGURINHAS

             Se para elas a disputa só começará no próximo dia 12, faz tempo que as 32 seleções da Copa vêm sendo frenética e intensamente disputadas. Seus jogadores têm sofrido implacável perseguição; o Brasil e o resto do mundo estão à sua procura.
            São os colecionadores de figurinhas, que não descansarão enquanto não os capturarem, um a um.
            Incrível como certos hábitos atravessam o tempo, sem perder a magia, o encanto e o poder de seduzir.
Os cromos da Copa 2014 mobilizam gente de qualquer idade, em várias partes do planeta. Homens, mulheres, crianças, jovens, famílias inteiras se envolveram no processo. Todos se apressam para completar suas coleções, de preferência antes de o campeonato começar. Nessa corrida, valem negociações nos pontos de troca, locais de trabalho, escolas, hospitais, consultórios, festas sociais, onde quer que seja. Até em cultos e velórios surge alguém com uma listinha na mão, perguntando pelos números que lhe faltam.
Conforme pesquisa de mestrado do paulista Paulo Cezar Goulart, as primeiras figurinhas surgiram na Europa, por volta de 1870. Vinham em maços de cigarros, igual apareceram no Brasil, duas décadas depois.
Com o passar do tempo, vinham também em balas e sabonetes, na forma de promoções tipo “achou ganhou”. Encontradas, podiam ser trocadas por pequenos brindes. Foi a fase em que, nas balas “Americanas”, começaram a surgir as figurinhas de jogadores de futebol.
Inicialmente guardadas soltas, as figurinhas só passaram a ter local próprio em 1934, quando as balas “A Holandeza” lançaram o primeiro álbum.
Na metade do último século, a figurinha deixou de ser brinde, para ser vendida.
            “Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950” foi o primeiro álbum brasileiro que tratou apenas de futebol; os anteriores misturavam vários temas. Estranhamente, ele foi lançado meses depois que a Seleção Brasileira perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã. Ainda assim fez sucesso.
Passada a Copa, as figurinhas deverão sair de cena, deixando saudade. Poderão retornar daqui a dois anos, nos Jogos Olímpicos, ou só no Mundial de 2018.
Sempre que surgem, criam um clima contagiante. Têm o condão de mostrar o quanto é tênue o meridiano que separa crianças e adolescentes, jovens e adultos. Chega a ponto de fazer crer que essa distinção só existe na Lei, nada tendo a ver com a personalidade e as características físicas de cada geração.
Como bem ressaltou a antropóloga Cláudia Pereira, do Departamento Social de Comunicação da PUC-Rio, “a febre (de colecionar figurinhas) está maior porque as fronteiras da idade estão cada vez mais borradas por conta da expansão da idéia da juventude. Nesse contexto, é permitido acessar a infância o tempo todo”.  Ainda segundo ela, “… é uma forma de (re)viver a infância, sem vergonha de ser feliz”.
            A propósito: faltam-me as do Kaká e do Ronaldinho Gaúcho ...

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