Se para elas a disputa só começará no próximo dia 12, faz tempo que as 32
seleções da Copa vêm sendo frenética e intensamente disputadas. Seus jogadores
têm sofrido implacável perseguição;
o Brasil e o resto do mundo estão à sua procura.
São os colecionadores de figurinhas, que não descansarão enquanto não os
capturarem, um a um.
Incrível como certos hábitos atravessam o tempo, sem perder a magia, o encanto
e o poder de seduzir.
Os cromos da Copa 2014 mobilizam gente de qualquer idade, em várias
partes do planeta. Homens, mulheres, crianças, jovens, famílias inteiras se
envolveram no processo. Todos se apressam para completar suas coleções, de
preferência antes de o campeonato começar. Nessa corrida, valem negociações nos
pontos de troca, locais de trabalho, escolas, hospitais, consultórios, festas
sociais, onde quer que seja. Até em cultos e velórios surge alguém com uma
listinha na mão, perguntando pelos números que lhe faltam.
Conforme pesquisa de mestrado do paulista Paulo Cezar Goulart, as
primeiras figurinhas surgiram na Europa, por volta de 1870. Vinham em maços de
cigarros, igual apareceram no Brasil, duas décadas depois.
Com o passar do tempo, vinham também em balas e sabonetes, na forma de
promoções tipo “achou ganhou”. Encontradas, podiam ser trocadas por pequenos
brindes. Foi a fase em que, nas balas “Americanas”, começaram a surgir as
figurinhas de jogadores de futebol.
Inicialmente guardadas soltas, as figurinhas só passaram a ter local
próprio em 1934, quando as balas “A Holandeza” lançaram o primeiro álbum.
Na metade do último século, a figurinha deixou de ser brinde, para ser
vendida.
“Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950” foi o primeiro álbum brasileiro
que tratou apenas de futebol; os
anteriores misturavam vários temas. Estranhamente, ele foi lançado meses depois
que a Seleção Brasileira perdeu o título para o Uruguai, em pleno
Maracanã. Ainda assim fez sucesso.
Passada a Copa, as figurinhas deverão sair de cena, deixando saudade.
Poderão retornar daqui a dois anos, nos Jogos Olímpicos, ou só no Mundial de
2018.
Sempre que surgem, criam um clima contagiante. Têm o condão de mostrar o
quanto é tênue o meridiano que separa crianças e adolescentes, jovens e
adultos. Chega a ponto de fazer crer que essa distinção só existe na Lei, nada
tendo a ver com a personalidade e as características físicas de cada geração.
Como bem ressaltou a antropóloga Cláudia Pereira, do Departamento Social
de Comunicação da PUC-Rio, “a febre (de colecionar figurinhas) está maior
porque as fronteiras da idade estão cada vez mais borradas por conta da
expansão da idéia da juventude. Nesse contexto, é permitido acessar a infância
o tempo todo”. Ainda segundo ela, “… é uma forma de (re)viver a infância,
sem vergonha de ser feliz”.
A propósito: faltam-me as do
Kaká e do Ronaldinho Gaúcho ...
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