Há muito, a situação econômica e
financeira da Petrobrás vem se deteriorando.
Seus
resultados contábeis, ainda que positivos, se mostram sempre declinantes,
quando comparados com os de exercícios passados.
Segundo analistas, uma das principais
explicações para isso seria o represamento de preços da gasolina e do diesel,
praticado pelo governo, para evitar aumento da inflação.
Outro responsável é o enorme e
crescente endividamento da Petrobras – o maior entre as grandes petroleiras do
mundo –, contraído para bancar pesado programa de investimentos. De acordo com
as previsões, a dívida líquida da empresa
deverá ultrapassar de US$ 100 bilhões, até 2018, situando-se bem cima do
seu valor de mercado.
São dados que, na verdade, mais
interessam aos acionistas, os mais afetados pelo sobe e desce das ações da
estatal. Mas não passam de perfumaria, se comparados a outros fatores que estão
contribuindo para a derrocada da empresa.
Na visão do povo, mero consumidor de
uma das gasolinas mais caras do mundo, a corrupção e as falcatruas que ali se
instalaram, nos últimos doze anos, são as grandes causadoras do desastre.
Os questionamentos envolvendo a
compra da Refinaria de Pasadena, a construção da Refinaria Abreu e Lima,
aliados aos vergonhosos escândalos denunciados por Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da companhia, têm provocado imensa revolta popular.
A essa altura,
percebendo a inércia e até a complacência das autoridades, o cidadão se vê
motivado a enfatizar sua indignação. E a melhor forma de fazê-lo é na manifestação de rua, tipo
aquelas promovidas em junho do ano passado. Quando pacíficas e bem organizadas,
costumam surtir efeito.
Foi o que pareceu estar acontecendo, no último dia 15, no Rio
de Janeiro.
Dias antes, via internet e outros meios de comunicação,
divulgou-se que o Rio seria palco de uma manifestação, com Lula, de grande
importância para o futuro do país. Um ato político em defesa do pré-sal, da
Petrobrás e do Brasil. A organização estava a cargo da CUT, outros sindicatos
trabalhistas e movimentos sociais.
Conforme programado, a concentração iniciou-se por volta de
10 horas, na Cinelândia, de onde partiu, em passeata, rumo à sede da Petrobrás.
Lula chegou em torno de meio-dia,
acompanhado de Lindberg Farias (PT), candidato ao governo do Estado.
Em seu sempre inflamado discurso, o
ex-presidente disse: "Estou presente aqui porque, quando surgem algumas
denúncias de corrupção contra a Petrobras, muitas pessoas começam a ter
vergonha de vestir o uniforme da empresa e eu insisto em fazer isso. Não tenho
vergonha desta camisa, que deve orgulhar os trabalhadores e o povo brasileiro
pelo que a Petrobras significa para país”.
Qualquer
mobilização em favor das grandes empresas brasileiras, estatais ou privadas,
será sempre bem-vinda.
A
passeata carioca, entretanto, provocou um misto de estranheza e perplexidade.
Não pelos motivos anunciados, mas pelo fato de a defesa da Petrobrás estar
sendo feita, em tempo de eleições, justamente pela corrente política que vem
sendo responsabilizada pelos desmandos acontecidos na empresa. Surrealismo tem
limites!
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce
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