domingo, 18 de outubro de 2015

UMA MÃO SUJA A OUTRA

            Houve época em que os políticos tinham um pouco mais de acanhamento e pudor, na hora de praticar atos indecorosos. De alguma forma, tentavam maquiar suas ações nefastas, para que elas parecessem legítimas e os interesses particulares não ficassem tão visíveis.
            A primeira grande preocupação era não “queimar o filme” com o eleitorado. A outra era não “dar mole” para os órgãos fiscalizadores.
O cuidado e a habilidade tinham também o objetivo de não comprometer o prestígio das instituições que elesrepresentavam.
Naquele tempo, o brasileiro já se sentia lesado. Mas, diante do modo ardiloso como isso acontecia, nem sempre sobrava espaço para uma reação mais convicta. No vai-da-valsa, acabava tudo no “vamos deixar como está, pra ver como é que fica”. E ficava por isso mesmo ...
O Brasil desenvolveu, impulsionado por riquezas geradoras de recursos que se acumularam nos cofres das grandes estatais. Essas, por sua vez, cresceram e se projetaram no mercado, comprando ou vendendo bens e serviços. Com isso, atraíram a atenção de empreiteiros, lobistas, agentes de governo e políticos inescrupulosos, sôfregos por dinheiro público.
A um só tempo, o país foi tomado por um monte de partidos políticos desprovidos de qualquer idealismo. Muitos deles sendo siglas de aluguel, meros abrigos de dirigentes e eleitos de toda espécie, com ênfase para os mais desqualificados, moral e culturalmente.
Para formar e manter uma base que lhe desse sustentação, o Governo se viu na obrigação de também crescer. Aumentou o número de ministérios, criando mais cargos de confiança, inclusive nas estatais e nas sociedades de economia mista. Era o jeito de ter onde acomodar os políticos e seus apadrinhados, sempre na base do “é dando que se recebe”.
Não deu outra. Formou-se no país não uma parceria, mas, sim, uma quadrilha público-privada especializada em roubar dinheiro do povo. No “avança”, os gananciosos começaram a meter os pés pelas mãos. A partir de certo ponto, ninguém mais dava bolas pra ética, honra, e outros parâmetros de bom comportamento. Independentemente de escalão, “suspeita-se” que os aproveitadores agiam onde quer que houvesse grana à disposição.. Que o diga o juiz Sérgio Moro!
A desfaçatez ficou de tal forma escancarada, que hoje o comando da nação está nas mãos de gente envolvida nas mais vergonhosas falcatruas.
Acusada de haver infringido a Lei de Responsabilidade Fiscal, praticando as já famosas “pedaladas” fiscais, a presidente da República enfrenta uma ameaça de impeachment.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, dono de antecedentes nada lisonjeiros, é investigado pela Procuradoria Geral da República, por suposto (nunca evidente) envolvimento na operação Lava-Jato. Sem falar que, alertada pela Receita Federal, a PGR também apura a participação de Calheiros numa transação imobiliária realizada em Alagoas, que cheira a lavagem de dinheiro.  
Na Câmara, o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha, corre sério risco de ser cassado, por quebra de decoro parlamentar. Apesar de suas negativas, confirmou-se que ele possui contas secretas na Suíça, abastecidas com dinheiro desviado da Petrobrás.
Com tanta gente graúda envolvida, Brasília é hoje um grande balcão de negócios. Na ânsia de se livrar das acusações e preservar o poder, os ameaçados fazem de tudo. Mentem, sofismam, negam o óbvio, chantageiam e se dispõem a qualquer tipo de conchavo.
Com um cinismo a toda prova, tentam passar a ideia de que costuram um simples acordo de colaboração mútua.

Mas a opinião pública, enojada, sabe que tudo não passa de jogo rasteiro, onde uma mão suja a outra. Com chance de lava-jato, é claro!

- Diário do Rio Doce
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