Por
Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce - 29.08.2019
Como
se não lhes bastasse provocar sobressaltos e intranquilidade em suas inúmeras
vítimas, os problemas político-administrativos, agravados pela corrupção, pela
retração industrial, pelo desemprego e por outras mazelas sociais, sempre
contribuem para monopolizar as atenções populares.
Talvez isso explique – embora não justifique – o esquecimento ou o
melancólico decurso de algumas datas nacionais de histórica relevância, que
acabam passando em branco.
Nada
a ver com o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, com o Dia Nacional de Combate
ao Fumo, ou com o Dia de Santa Joana Maria da Cruz, aos quais o 29 de agosto é
reservado. Em alguns locais, com maior ou menor intensidade, eles devem estar
sendo celebrados.
Mas há descasos inadmissíveis, como o acontecido no último dia 24, em
vários pontos do país, quando transcorreu o 65º aniversário da morte do
ex-presidente Getúlio Vargas.
Grande personagem de uma época da qual ainda restam muitas testemunhas,
Vargas é apontado como o mais importante chefe político brasileiro do último
século.
Gaúcho de São Borja-RS, presidiu o Brasil por duas ocasiões. A primeira
de 1930 a 1945, conhecida como Era Vargas. Um marco na história brasileira,
quando inúmeras alterações socioeconômicas aconteceram no país. A segunda de
1951 a 1954, eleito por voto direto.
Entre outras grandes iniciativas, criou a Justiça do Trabalho, instituiu
o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Direitos
trabalhistas, como carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e
férias remuneradas, também são frutos de seu governo.
Mesmo quando ditador foi um presidente que se destacou por importantes
realizações como a criação da Cia. Siderúrgica Nacional, da Cia. Vale do Rio
Doce e da Hidrelétrica Vale do São Francisco. Em 1953 criou a Petrobrás,
resultado da campanha popular que começou em 1946, com o histórico slogan
"O petróleo é nosso".
Assim como todo
grande líder, tinha características próprias: foi o precursor do marketing
pessoal em ampla escala, direitista convicto e populista ao extremo. Pelos
admiradores era conhecido como “pai dos pobres”, por haver, em sua primeira
passagem pelo poder, praticado uma abrangente política de direitos sociais e
trabalhistas, atendendo a antigas reivindicações populares. Essas realizações
foram amplamente divulgadas por um aparato publicitário que provocou verdadeiro
"culto à personalidade" do então ditador.
No segundo mandato,
iniciado em 1950, Getúlio manteve uma política nacionalista. Mas seu governo
foi minado por várias crises.
Em 1954 a atmosfera
política no Brasil tornou-se tensa e conturbada. Os últimos dias de governo
foram marcados por forte pressão política feita pela imprensa e pelos
militares. O povo estava insatisfeito com a situação econômica do país.
Exigia-se a renúncia do presidente.
Vargas optou por ele
próprio decidir seu destino. Cometeu suicídio no dia 24 de agosto de 1954, com
um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, então
capital federal.
Na carta-testamento
que foi encontrada ao lado de seu corpo, escrita de próprio punho, Getúlio deixou
um recado à nação: “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a
espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a
calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha
morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade,
e saio da vida para entrar na história”.
Getúlio
levou
consigo as qualidades de um grande estadista, ao qual o Brasil deve permanente
e ampla reverência. Qualquer esquecimento será sempre imperdoável.
Está havendo muitas manifestações fanáticas por parte dos extremos da direita e da esquerda. Estão cegos, ou alheios, quanto às conquistas históricas e culturais. Veja bem! Se ignoram, ou deixam cair no esquecimento, um grande marco como Getúlio Vargas, é por que o descaso para com a matéria "História" vem do próprio povo. Por isso, meu amigo Etelmar, é que o cronista não pode parar. Está aí a importância do cronista, vendo o que os olhos comuns não conseguem ver, e despertando a atenção dos leitores para os acontecimentos que passam por despercebidos. Parabéns por mais esta excelente crônica!
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