Se escândalo indicasse desenvolvimento, o Brasil estaria
entre os países mais adiantados do mundo. Se a classificação fosse em função
dos casos mal resolvidos, abafados ou guardados sob tapetes, o primeiro lugar seria
conquistado na moleza.
Grande parte já caiu no esquecimento. Algumas maracutaias, entretanto,
teimam em tirar o sono de seus responsáveis, sempre temerosos de uma punição
improvável, mas não impossível.
Por incrível que pareça, há casos em que o julgamento
tarda mas acaba acontecendo, ainda que para salvar aparências e nem sempre fazer
justiça.
Na próxima quinta-feira (02), o Supremo Federal (STF)
começa a julgar o famoso “mensalão’, esquema de compra de votos de
parlamentares denunciado em 2005 pelo ex-deputado Roberto Jefferson, que também
será julgado.
Após muita espera, chegou o momento de o ex-ministro José
Dirceu e outros 37 denunciados responderem por suposta participação no plano.
Entre os acusados estão o ex-deputado e ex-presidente do
PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, o empresário Marcos Valério, o publicitário
Duda Mendonça, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, os ex-ministros
Luiz Gushiken e Anderson Adauto, mais outras estrelas da constelação petista.
Desapontado com os resultados quase sempre inócuos de casos
precedentes, e conhecendo o poder de influência desse grupo e do partido
político em que se apoia, o povo não alimenta grandes expectativas em relação ao
evento.
A corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, chegou
a dizer que o STF terá “o seu grande julgamento ao julgar o mensalão”.
Respondendo pela presidência da Corte, o ministro Marco
Aurélio Mello reagiu de imediato. Afirmou que “o Supremo Tribunal Federal não é julgado. O Supremo julga e tem a última
palavra. É uma visão equivocada da ministra Eliana. Não estamos preocupados em
formar a minoria ou a maioria no julgamento”.
Ainda assim, caso prevaleçam algumas teses de defesa já
reveladas, não se deve apostar em muitas punições. Não será surpresa se,
absolvido, alguém sair do Tribunal pleiteando indenização por danos morais e
invasão de privacidade.
Na Praça dos Três Poderes, exala incômodo cheiro de pizza.
Ninguém se arrisca a apontar sua origem, até porque, na mesma área, acontece a
CPI Cachoeira.
Apesar desse ceticismo, a esperança é de que o Judiciário
julgue com isenção e serenidade, assegurando aos réus ampla defesa e não
permitindo linchamentos sumários.
Grata, a
democracia sairá fortalecida.
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