sábado, 15 de setembro de 2012

HERÓI BARNABÉ


             A facilidade com que o Brasil elege seus heróis e vilões é diretamente proporcional à rapidez com que esses conceitos se revezam na opinião popular.  Talvez esteja nisso a razão de o país ser tão vítima de lideranças passageiras.
            Até o momento em que caiu em desgraça, o senador Demóstenes Torres desfrutava de grande idolatria. Por sua atuação parlamentar, era visto como mosqueteiro da ética, paladino da lei e da moralidade. O escândalo Cachoeira, contudo, revelou seu mau-caratismo, exibindo-o como abominável contraventor, capaz de iludir os mais experientes observadores. Sua imediata transformação em vilão foi outra mostra de que não se deve precipitar na entronização de ídolos, por melhores que sejam as aparências.
            Mas o brasileiro é tão pródigo em boa fé, quanto carente de lideranças. Em meio à corrupção e à impunidade que assolam o país, qualquer gesto de honestidade ou de cumprimento do dever logo é visto como heroísmo digno de tributo.
Nem sempre os responsáveis por boas atitudes cobram reconhecimento, mas a raridade com que aparecem os torna alvos de especial reverência.  
            É o caso do ministro Joaquim Barbosa, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
            Audacioso e destemido, Barbosa foi destaque em 2009, num acalorado “bate-boca” com o ministro Gilmar Mendes, então presidente do STF. À época, reagindo a uma admoestação de Mendes, não hesitou em retrucar que ele estava “destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro”. Em seguida, cobrando respeito, bradou que “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com seus capangas do Mato Grosso”.
            Esse o personagem que voltou às manchetes, na condição de relator do processo “mensalão”, sob julgamento no STF.
            Seu desempenho na Alta Corte, enérgico e contundente, tem lhe valido os mais calorosos aplausos, transformando-o na grande esperança de punição dos culpados.
            Na sua simplicidade, Barbosa já se mostra constrangido diante dos elogios, preferindo declinar da fama de herói e dizer-se mero “barnabé” da famigerada ação.
 Ele sabe não estar praticando nenhuma bravura; apenas cumpre sua obrigação. De especial, só o fato de ser o primeiro a condenar criminosos de colarinho branco.
            Em terra de escassas virtudes, Barbosa terá esta e muitas outras ocasiões de expor suas boas qualidades, sem precisar de pedestais.
            A forma como tem se comportado afasta dele as nuanças de herói de época, enquanto lhe sobram predicados capazes de colocá-lo na galeria dos consagrados vultos nacionais. No momento certo!

 

 

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