sábado, 1 de setembro de 2012

"SONHO MEU"


            Saudosos são os tempos em que gravidez e eleições despertavam igual curiosidade. Em que sexo e vitória se revestiam do mesmo mistério. Em que o conteúdo das fraldas e das urnas só se tornava conhecido quando  elas eram abertas.
            Durante muitos anos, a surpresa foi o elemento comum entre esses fatos.
            Tão logo a mulher se descobria grávida, instalava-se o suspense em relação ao sexo do bebê.
            Não faltavam adivinhações, palpites e prognósticos, baseados em experiências, sintomas ou superstições. Promessas e apostas mobilizavam os pais, avós, outros familiares e todos os que se dividiam entre homem e mulher. Velas eram queimadas, e muita cerveja foi paga por conta dessa doce incerteza.
            Nada adiantava alimentar a imaginação. O resultado só era conhecido ao final de nove meses, depois de o bebê “dar as caras” e mostrar suas “credenciais”.
            Também o saldo das eleições constituía angustiante incógnita.
            Os candidatos se apresentavam, como hoje, mas os medidores de opinião eram escassos e inseguros. As mudanças de cenário aconteciam, sem que pudessem ser convenientemente avaliadas.  Certeza de vitória só depois de concluída a contagem manual dos votos; coisa que a aflição transformava em sôfrega eternidade.
            O ultrassom, com cem por cento de acerto, desvendou o segredo do ventre materno. Acabou com as ansiedades, simpatias, dúvidas quanto às cores do enxoval, e tantas outras curtições que empolgavam o enigma do ele ou ela. Agora, com poucos meses, já se sabe se o bebê é homem ou mulher, atleticano, flamenguista ou corintiano, mocinho ou bandido, político ou gente séria. Sem risco de errar.
            Também a eleição perdeu muito de sua emoção.
            Desde o surgimento das pesquisas eleitorais e da urna eletrônica, a disputa ficou sem graça. Antes da votação, o resultado já é facilmente presumível, quando não imexível.  Não há mais aquela longa e emocionante espera pela proclamação dos vencedores; a apuração acontece em questão de horas.
            As atenções são agora mais voltadas para o futuro.
            Em família, a torcida é para que o recém-nascido cresça fiel ao seu gênero. Nada de trocar de lado.
            Na política, espera-se que o eleito honre os compromissos assumidos, sem se entregar às seduções do poder.
            Dois sonhos ambiciosos!


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