Essa
aglutinação resulta irônica, ao sugerir que o Brasil chore a morte de seu
principal herói, ao mesmo tempo em que festeja o nascimento de sua capital, na véspera
de celebrar sua descoberta.
Antes
comemoradas em alto estilo e com grande entusiasmo, estão perdendo o
magnetismo, enfrentam gradativo esquecimento.
Se
os festejos alusivos à fundação da Capital federal permanecem despertando
interesse de boa parte da população brasiliense, isso mais se deve aos espetáculos
populares, estrelados por desportistas, bandas e artistas famosos incluídos na programação.
Os demais eventos, em especial os de natureza cívica, são prestigiados quase só
por autoridades e convidados obrigados a marcar presença. A explicação estaria
no fato de Brasília, mesmo permanecendo bela e exuberante, haver perdido parte
de seu charme e poder de sedução, graças aos repetidos escândalos de que tem
sido palco. Além disso, ostentando crescimento muito acima do imaginado por JK,
a cidade completa hoje 53 anos, com problemas de metrópoles centenárias, dificultando
a mobilidade e desestimulando maior envolvimento comunitário.
O Dia de Tiradentes,
um dos mais importantes feriados nacionais, ainda resiste bravamente à queda de
prestígio, entrincheirado na Terra das Alterosas, berço de Joaquim José da
Silva Xavier. Os mineiros não economizam homenagens ao Mártir da Independência.
No restante do país, entretanto, não se nota a mobilização de outras épocas,
haja vista a melancolia com que a data vem transcorrendo.
E a situação tende a se agravar,
caso evolua a inusitada história de que Tiradentes seria uma farsa produzida
pelos Inconfidentes. Segundo versões que circulam na internet, uma delas atribuída
ao jornalista Guilhobel Aurélio Camargo, nosso grande herói teria terceirizado
seu enforcamento e se mandado para a França, onde depois seria visto mais de pé
que a Torre Eifel. Em troca de ajuda financeira à sua família, o carpinteiro Isidro
Gouveia, um ladrão condenado à morte, teria assumido a identidade de Tiradentes,
para, com o rosto encoberto, ser executado em lugar do alferes.
Já
a façanha atribuída a Pedro Álvares Cabral ruma célere para a galeria dos
grandes acontecimentos irrelevantes. Foi preterida até pela terça-feira de
Carnaval, que tem status de feriado.
Pouco se fala do
dia em que os navegantes portugueses encontraram a Terra de Vera Cruz. Quando
muito, gozadores de plantão fazem piadas e chacotas com o descobrimento. Uma
delas conta que, em certo momento, um olheiro da caravela portuguesa gritou que
avistava um grande monte. E Cabral teria perguntado: - De quê?! Era o Monte
Pascoal!!!
Há
muitas explicações para a amnésia cívica que ameaça a nação. A mais plausível
repousa no quanto as farsas contemporâneas podem ofuscar ou colocar em dúvida
os registros históricos. O presente que inibe confiança no futuro incita
descrença no passado.
Ainda
bem que o Dia do Descobrimento coincide com o Dia da Mandioca. E o brasileiro é
chegado a uma mandioca – a amarelinha, macia e, de preferência, com carne de
sol e cerveja gelada. É a garantia de que o achado de Cabral continuará sendo
comemorado, pelo menos nos bares da vida.
* Jornal de Domingo (21 a 27.04.2013)
* Diário do Rio Doce (21.04.2013)
* Jornal de Domingo (21 a 27.04.2013)
* Diário do Rio Doce (21.04.2013)
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