domingo, 5 de maio de 2013

BRIGA DE CACHORRO GRANDE


            Já não era das mais afáveis a relação entre o Judiciário e o Legislativo, culpa da Proposta de Emenda à Constituição 37, popularmente conhecida como "PEC da Impunidade", que tira o poder de investigação dos Ministério Público, estadual e federal, limitando a atribuição às polícias.
         Os contrários à emenda entendem que, se aprovada, ela poderá inviabilizar investigações sobre crime organizado, formação de quadrilhas, desvio de verbas, abusos praticados por agentes públicos, violações de direitos humanos e outras maracutaias.
         Ainda bem que o presidente da Câmara mandou sustá-la, em busca de uma solução de consenso entre os envolvidos.
         Mas a tensão aumentou na última semana, quando duas outras decisões se confrontaram.
         De um lado, Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu, em caráter liminar, a tramitação no Congresso do Projeto de Lei que estabelece restrições à criação de partidos políticos.
         Ao mesmo tempo, como numa queda de braços, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal aprovou a PEC 33, de autoria do quase desconhecido deputado Nazareno Fontelles (PT-PI).  A proposta confere aos parlamentares a prerrogativa de rever decisões do STF e altera as regras para declaração de inconstitucionalidade de leis aprovadas pelo Congresso.
         Chamada PEC da Submissão, a matéria foi mal recebida pelo Judiciário.
Enquanto o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, afirmava que ela fragiliza a democracia, o ministro Marco Aurélio, também do STF, falava de agressão à cláusula pétrea da Constituição que trata da separação dos poderes da República. Mais contundente, Gilmar Mendes disse ser “melhor que se feche o Supremo Tribunal Federal” caso a proposta seja aprovada pelo Legislativo.
Também o povo está indignado. Onze em cada dez cidadãos sensatos acreditam que a decisão da CCJ foi nitidamente revanchista, objetivando tumultuar o processo e favorecer os condenados no “mensalão”, dois dos quais – José Genoíno e João Paulo Cunha – incluídos entre seus membros efetivos.
Pode até ser que a infeliz ideia não prospere. Também é possível que não tenha passado de brincadeira de mau gosto, blefe ou irresponsabilidade de um parlamentar desejoso de aparecer e subserviente a interesses escusos de parceiros não menos insensatos. Mas o estrago foi feito.
Por mais que as autoridades tentem agora dissimular, a crise existe e é uma parada entre pesos pesados.      
Perplexo, o país assiste a uma predatória disputa entre poderes, que, longe de demonstrar a supremacia de qualquer das partes, mais expõe a fragilidade de ambas.
Um velho provérbio diz que, quando o mar briga com o rochedo, quem apanha é o marisco.
Na vida pública, quando digladiam forças que deveriam se complementar harmoniosamente, o muito que se consegue é uma vitória de Pirro. Mas o país perde sempre, e pra valer. Tem sido regra do jogo.
           





  

        

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