domingo, 8 de setembro de 2013

TORNEIRAS PRÓDIGAS

            O alerta foi categórico, explícito, e até seria cabível com maior antecedência: Governador Valadares corre o risco de ficar sem água.
Em julho, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) já enfrentava dificuldades para bombear a água indispensável ao abastecimento da população, pois o Rio Doce estava no seu nível mínimo.  A partir de então o quadro se agravou, a ponto de, no final de agosto, a captação ficar restrita a 75% do necessário; as águas do rio já estavam abaixo da régua de marcação.
            O Saae trabalha com quatro bombas de captação, mas, devido à altura do rio, e para evitar que fosse danificada, uma delas foi desligada.
            O diretor da autarquia, Omir Quintino, disse ser difícil prever quando começaria um possível desabastecimento. Até porque várias medidas estão sendo tomadas para garantir o fornecimento. Mas, segundo ele, a situação é grave. Se o nível do rio continuar baixando, outras bombas podem ser desativadas. Por isso, a população está sendo concitada a economizar água. 
              Quintino disse haver avisado a todos os órgãos competentes e se reunido com os responsáveis pela Usina de Baguari, que, na quarta-feira (28), liberaram a quantidade de água que lhes era possível. Isso fez com que a régua ficasse positiva naquela data, mas, um dia depois, ela voltou ao seu estado negativo. “Se não houver um período de chuva para garantir um maior volume do rio, enfrentaremos um sério problema”, afirmou.
            A seu ver, a conscientização das pessoas irá amenizar o déficit, “porque aí estaremos reservando água por um bom tempo, até chegar uma boa chuva e melhorar o nível do rio. Vale ressaltar que a falta d água já é sentida nos bairros mais distantes. Esperamos que o nível do rio volte a subir, para que não seja necessário o sacrifício da população”.
            A realidade é que Valadares está sob ameaça de ficar sem água. A escassez já acontece não apenas na periferia, mas em outros pontos da cidade, inclusive na zona central.
            O fenômeno pode se dar em qualquer localidade. Muitos fatores contribuem para que ocorra, com ênfase para a carência de chuvas, o aumento do consumo provocado pelo crescimento urbano, e o desperdício. Os dois primeiros são incontroláveis, mas o último pode ser eliminado, mediante ajuda do povo e eficiente fiscalização por parte do poder público e da própria sociedade.
            É o que não está acontecendo em Valadares, pelo menos na intensidade que a circunstância exige.
            Uma rápida caminhada pela cidade basta para constatar a indiferença de certas pessoas, empresas e até órgãos públicos. Nem todos estão levando em conta a advertência do Saae.
            Não é preciso andar muito, para encontrar-se alguém desperdiçando preciosos litros de água.  O desrespeito não tem jurisdição, porém acentua-se nas áreas centrais, onde os mais abastados insistem em longas limpezas de passeios, irrigações de plantas e jardins, lavagens de veículos e outras práticas que chegam a afrontar à comunidade, contribuindo para agravar a ameaça que paira sobre ela. Leia-se condomínios, postos de combustíveis, lava-jatos, colégios, mansões, casas e outros locais onde a água segue jorrando como se houvesse enchente.
            Mesmo sendo o Brasil um país privilegiado em termos de disponibilidade de água, a preservação desse recurso natural deve ser preocupação permanente. Quando nada em respeito aos povos e regiões carentes desse bem.
            Por concessão da natureza, o valadarense ainda não sofreu o flagelo da seca. Mas, se continuar abusando da sorte, pode se tornar tão retirante quanto o nordestino. Que as chuvas o salvem! 

·          Jornal de Domingo
·          Diário do Rio Doce 

 

 

 

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