sábado, 20 de julho de 2013

ENTRE ALHOS E BUGALHOS

            Os autênticos movimentos de rua, acontecidos em junho passado, criticaram falhas na educação, saúde, transporte, infraestrutura e outras áreas. Faixas e cartazes continham recados ora sutis e divertidos, ora explícitos e mal-humorados, mas não dissimulavam as reclamações. Foi um grito espontâneo, sincero e uníssono, que não dependeu de ensaio; brotou da intolerância para com erros que há muito prejudicam a nação. Naquele momento, a impressão geral era de um povo empenhado em retomar seu rumo.
            Como sempre existe a outra face da moeda, as mobilizações serviram pra mostrar que nem tudo está perdido. Aos nossos políticos e administradores pode faltar maior preparo para cuidar das coisas essenciais, mas lhes sobram habilidade e sorte para embolar o jogo. São mestres na administração de conflitos e no inverter situações.
            O povo não escondeu seus clamores. Nada pediu de supérfluo. Exigiu – e permanece exigindo – o básico, aquele mínimo de planejamento, administração, execução e honestidade que tornam disponíveis os serviços e recursos a que todos têm direito.
            Pressionados, mas expertos, os entes públicos resolveram mostrar serviços, atirando em todas as direções, numa indisfarçável intenção de tumultuar o ambiente e abafar o grito das massas.
            Um plebiscito não cobrado pelo povo, para que ele se manifeste sobre uma açodada reforma política que tampouco demandou, foi a reação imediatamente esboçada.  A ideia não empolgou, mas ajudou a esfriar os ânimos.
Também a importação de médicos e o acréscimo de mais dois anos na duração do curso de medicina transformaram-se em temas polêmicos e ofuscaram fatos mais relevantes. Há suspeita de que foram colocados na ordem do dia para mascarar os grandes problemas da Saúde.
            Além disso, as atenções populares ficaram divididas com a Copa das Confederações, conquistada pela Seleção Brasileira; a espionagem americana denunciada por Edward Snowden; o “affaire” internacional envolvendo o presidente boliviano Evo Morales; a tramitação do projeto de “cura gay”; a farra em aviões da FAB, promovida por figurões do Poder; os recorrentes protestos isolados que quase sempre terminam em violentos confrontos e deplorável vandalismo, a visita do Papa Francisco, afora outras questões desconexas. Coincidência ou não, essa concentração de ocorrências contribuiu para desviar o foco dos protestos e arrefecer as grandes mobilizações.
            Acreditando que “tá tudo dominado”, deputados e senadores fizeram as malas e partiram para um descanso de duas semanas, deixando uma série de pendências para o segundo semestre, inclusive a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).  “Será apenas uma pausa pelo período de 15 dias sem deliberações nos plenários da Câmara e do Senado”, explicou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Afinal, ninguém é de ferro.
            Certamente não levaram em conta que o recuo do povo também pode significar só um breve recesso. Não perdem por esperar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário