domingo, 27 de abril de 2014

CÁRCERES DO SOFRER

            Não é a primeira vez que um tema abordado pelo professor Luiz Alves Lopes serve de âncora para nosso comentário semanal.
            Figura das mais reverenciadas nos meios jurídicos e socioculturais valadarenses, Lopes, que todos conhecem como “Luizinho” da Fadivale (Faculdade de Direito Vale do Rio Doce), dispensa apresentação. Entretanto, para um ou outro desatento, não custa lembrar que se trata de um ferrenho defensor dos interesses comunitários, respeitado pela firmeza de atitudes e pela coerência das teses que defende.
            Em um dos seus mais recentes e preciosos textos, intitulado “Oportunidade para refletir e inovar”, Luizinho fala da “grave crise que assola o sistema prisional brasileiro”.
            Lembra que, alertadas quanto às mazelas que fazem parte do cotidiano das nossas prisões, suas estruturas e funcionamentos precários, as próprias autoridades vieram a público para dizer que alguns condenados por instâncias superiores não poderiam nelas cumprir suas penas. “Esqueceram ou ignoraram outros 500 mil encarcerados que estão a vegetar no mesmo sistema, independentemente do grau de culpabilidade de suas práticas delituosas”, disse ele, alfinetando que “dignidade não se mede pelo grau de escolaridade, cargo ou função exercida”.
            Aponta o presídio de Pedrinhas, no “Maranhão dos nobres Sarneys”, que, a seu ver, “é apenas mais um neste ‘mundão’ de Cabral a causar náusea e indignação a quem tem sentimento e temor a Deus”.
            Contrário ao que chama de “debate baixo, chulo, inconveniente e desumano”, apregoa que vivemos em um estado democrático de direito, onde normas e dispositivos legais devem ser respeitados.
Adverte que aos cidadãos presos e condenados são assegurados direitos e impostas obrigações, cabendo ao Estado zelar, fiscalizar e fazer cumprir a lei. “A pena não é castigo. Tem finalidade específica. Deve-se buscar o alcance de seu real objetivo”, afirmou.
A intenção de Luizinho, pelo visto, é provocar no governo e na sociedade uma reflexão mais profunda sobre a gravidade da situação atual, e mostrar que a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) existe e tem condições de ajudar.
Defensor intransigente e colaborador incondicional da entidade, ele acredita que o “Método Apac” poderá, a médio e longo prazo, contribuir para humanizar o sistema prisional brasileiro, ”resgatando a dignidade perdida ou dando dignidade a quem nunca teve: aquele que cumpre pena em nossos estabelecimentos”. Essa metodologia caracteriza-se pelo estabelecimento de uma disciplina rígida, baseada no respeito, na ordem, no trabalho e no envolvimento da família do sentenciado.
Nas palavras de Luizinho, “é objetivo da Apac promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Seu propósito é evitar a reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar”.
Em síntese, não se cogita acabar com os presídios, sim com os problemas sociais, as truculências e o ambiente perverso que os transformam em locais de humilhação, agruras e embrutecimento. Convenhamos que não seja querer muito!

- Jornal de Domingo
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