sábado, 19 de julho de 2014

DAS ARENAS PARA AS URNAS

            Na disputa com outros temas, a Copa 2014 segue liderando a ordem do dia. Parece que dificilmente perderá espaço nos meios de comunicação e nas rodas sociais, pelo menos por um bom tempo.
            O fenômeno é compreensível, em se tratando de uma megarrealização que mexeu com os nervos mundiais e, em especial, abalou não só o emocional, mas as finanças brasileiras.
            O governo, como era de se esperar, permanece alardeando o sucesso do evento, dele tirando o possível proveito. Os adversários, por sua vez, procuram faturar em cima das promessas não cumpridas, aproveitando para criticar os bilionários gastos com investimentos que só o tempo dirá se foram ou não supérfluos.
            Resta saber se a polêmica chegará aos palanques eleitorais, e até que ponto poderá interferir no resultado do próximo pleito.
            As opiniões estão divididas, mas predomina o entendimento de que a derrota da Seleção brasileira nada tem a ver com as eleições; uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
            Para o professor de Ciência Política da FGV-SP, Cláudio Couto, “o que podia cair no colo do governo é a organização da Copa, mas nesse sentido tudo ocorreu dentro do razoável”.
            O consultor João Augusto Neves, da consultoria de risco político do Eurasia Group, em Washington, também acha que "qualquer impacto da derrota terá um efeito marginal sobre as eleições daqui a quase três meses". Segundo ele, há fatores mais importantes em jogo nesse pleito do que a Copa, e o principal deles é o custo crescente de uma desaceleração da economia.
Acredita-se que essa corrente esteja apoiada em precedentes que mostram pouca ligação entre os resultados de futebol e eleições nacionais.
            No pleito de 1998, FHC reelegeu-se no primeiro turno, logo após o Brasil ser derrotado pela França, na final da Copa daquele ano.
            A conquista do Penta, em 2002, não evitou que José Serra, candidato do governo, perdesse para Lula, poucos meses depois.
            O Brasil foi derrotado nas Copas de 2006 e 2010, anos em que o governo saiu vitorioso nas urnas, com Lula e Dilma Rousseff.
            A questão é que, em todas aquelas ocasiões, os resultados de nossa Seleção foram obtidos longe do país, em níveis até certo ponto aceitáveis, quando não merecedores de calorosos aplausos.
            Este ano, frustrando todas as expectativas, um fracasso aconteceu em casa, sob os olhos atônitos de milhões de brasileiros e estrangeiros que ainda hoje não acreditam no que viram.
            E não foi um resultado qualquer. Foram duas derrotas consecutivas, uma de 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal, outra de 3 a 0 para a Holanda, na final, “fechando a tampa do caixão”. O maior vexame do futebol brasileiro.
            Por mais entendidos que sejam, os analistas não devem se basear em reações passadas, para presumir o comportamento do brasileiro nas próximas eleições. Os contextos são bastante diferentes.
            Até porque ficou difícil não associar o pífio desempenho dos atletas, treinadores e dirigentes de nossa Seleção com a forma de agir dos políticos e governantes do país. O pensamento dominante é que se faz necessária uma “limpa geral”. E não é pra menos!
 
- Jornal de Domingo

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