domingo, 7 de setembro de 2014

BRASIL BRASILEIRO

            Nos enunciados da enciclopédia livre Wikipédia, "independência é a desassociação de um ser em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. É o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia".
            É, sem dúvida, um grande triunfo. Mas não deve ser confundido com um ato perfeito e acabado, um troféu que se coloca na estante, para mera exibição. Bem refletido, é um processo que se forma lenta e gradualmente. Uma conquista que, para se consolidar, requer esforço, paciência, persistência e, sobretudo, disciplina e seriedade. Do contrário, o “valente” corre o risco de se transformar num “coitado”, que alcançou o livre-arbítrio, mas não detém a mínima condição de desfrutá-lo. Tipo aquele jovem arrojado, mas imprevidente, que se livra do comando dos pais e acaba submetido à autoridade do mundo.
           O Brasil não chega a tanto, mas parece que ainda está longe de alcançar a plenitude da independência proclamada em 07 de setembro de 1822.
            Conta a narrativa oficial que, naquela data, às margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro de Alcântara de Bragança bradou "Independência ou Morte!", rompendo nossos laços com Portugal. Foi o grande momento da história nacional.
            O famoso “Grito do Ipiranga” libertou o Brasil do jugo português, porém não conseguiu livrá-lo de outras cangas que inibem a autonomia de seu povo.
            Independência pressupõe o desfrute de condições socioculturais condizentes com o pleno exercício da cidadania.
            Nesse quesito, o brasileiro permanece à espera de milagre.
            A educação, fundamental para a formação de mentes esclarecidas, capazes de agir com lucidez e autonomia, deixa muito a desejar, haja vista nossa pífia posição no ranking mundial. 
            Em termos de saúde, o quadro é dos mais lastimáveis. A insuficiência e o mau aparelhamento das unidades prestadoras de serviços oficiais, a falta de médicos e de medicamentos, o preço abusivo dos planos de saúde e a impossibilidade financeira de recorrer aos meios privados     são causas de muito sofrimento e incontáveis mortes. Cenário em que ninguém se sente liberto.
            Outro redutor de independência é a insegurança pública, que abre espaço para a absurda criminalidade registrada no país. Aqui, o número de mortos supera o contabilizado nas apavorantes guerras atuais. A violência urbana, alimentada por intenso tráfico de drogas e pelo desarmamento das pessoas de bem, invadiu as ruas, tolhendo a autonomia da sociedade. Os bandidos e o crime organizado subjugam mais do que os opressores do Brasil Colônia.
            Some-se a esses fatores a desbragada corrupção que há muito devasta o país. Mal que consome expressiva parte dos recursos que poderiam ser aplicados no saneamento dos males que comprometem a independência nacional.
            Nos 192 anos de emancipação que hoje são celebrados, o Brasil avançou, conquistou importantes vitórias e se impôs soberano no contexto internacional.
            Se perante os de fora essa independência é total, sobram razões para que também o seja no âmbito interno.
Tudo bem que o brasileiro é engajado no “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Mas não precisa andar sempre no fio da navalha, entre o “Independência ou Morte!”.

- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com.br








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