Nos
enunciados da enciclopédia livre Wikipédia, "independência é a desassociação de
um ser em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. É o estado
de quem ou do que tem liberdade ou autonomia".
É,
sem dúvida, um grande triunfo. Mas não deve ser confundido com um ato perfeito
e acabado, um troféu que se coloca na estante, para mera exibição. Bem
refletido, é um processo que se forma lenta e gradualmente. Uma conquista que,
para se consolidar, requer esforço, paciência, persistência e, sobretudo,
disciplina e seriedade. Do contrário, o “valente” corre o risco de se
transformar num “coitado”, que alcançou o livre-arbítrio, mas não detém a mínima
condição de desfrutá-lo. Tipo aquele jovem arrojado, mas imprevidente, que se
livra do comando dos pais e acaba submetido à autoridade do mundo.
O
Brasil não chega a tanto, mas parece que ainda está longe de alcançar a
plenitude da independência proclamada em 07 de setembro de 1822.
Conta
a narrativa oficial que, naquela data, às margens do riacho Ipiranga, Dom Pedro
de Alcântara de Bragança bradou "Independência ou Morte!", rompendo nossos
laços com Portugal. Foi o grande momento da história nacional.
O
famoso “Grito do Ipiranga” libertou o Brasil do jugo português, porém não
conseguiu livrá-lo de outras cangas que inibem a autonomia de seu povo.
Independência
pressupõe o desfrute de condições socioculturais condizentes com o pleno
exercício da cidadania.
Nesse
quesito, o brasileiro permanece à espera de milagre.
A
educação, fundamental para a formação de mentes esclarecidas, capazes de agir
com lucidez e autonomia, deixa muito a desejar, haja vista nossa pífia posição
no ranking mundial.
Em
termos de saúde, o quadro é dos mais lastimáveis. A insuficiência e o mau
aparelhamento das unidades prestadoras de serviços oficiais, a falta de médicos
e de medicamentos, o preço abusivo dos planos de saúde e a impossibilidade
financeira de recorrer aos meios privados são
causas de muito sofrimento e incontáveis mortes. Cenário em que ninguém se
sente liberto.
Outro
redutor de independência é a insegurança pública, que abre espaço para a
absurda criminalidade registrada no país. Aqui, o número de mortos supera o contabilizado
nas apavorantes guerras atuais. A violência urbana, alimentada por intenso
tráfico de drogas e pelo desarmamento das pessoas de bem, invadiu as ruas,
tolhendo a autonomia da sociedade. Os bandidos e o crime organizado subjugam
mais do que os opressores do Brasil Colônia.
Some-se
a esses fatores a desbragada corrupção que há muito devasta o país. Mal que
consome expressiva parte dos recursos que poderiam ser aplicados no saneamento
dos males que comprometem a independência nacional.
Nos
192 anos de emancipação que hoje são celebrados, o Brasil avançou, conquistou
importantes vitórias e se impôs soberano no contexto internacional.
Se
perante os de fora essa independência é total, sobram razões para que também o
seja no âmbito interno.
Tudo bem que o
brasileiro é engajado no “ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Mas
não precisa andar sempre no fio da navalha, entre o “Independência ou Morte!”.
- Jornal de Domingo
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com.br
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