domingo, 28 de dezembro de 2014

2014, UM ANO DIFUSO

            A opinião pública e os meios de comunicação têm o hábito de rotular os anos vividos, em função de episódios que os marcaram.
            Em termos internacionais, por exemplo, o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), a descida do homem na Lua (1969), a queda do Muro de Berlim (1989) e o ataque às Torres Gêmeas americanas (2001) se tonaram referência dos anos em que aconteceram.
            Na história recente brasileira, essa mesma repercussão alcançou o suicídio do presidente Getúlio Vargas (1954), a primeira conquista da Copa do Mundo de Futebol (1958), a inauguração de Brasília (1960), o fim da ditadura militar (1985) e o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (1992), entre outros importantes episódios que sozinhos conseguem simbolizar uma época.
            Chegamos ao final de 2014, outro ano que entrará para a história. Não por um fato isolado, mas por acontecimentos difusos que, no mínimo, lhe conferem condição multiface.
            No cenário mundial, será lembrado como o “ano das atrocidades”, em alusão ao genocídio praticado pelo Estado Islâmico, cujos brutais militantes praticam todo tipo de crueldade contra mulheres, crianças e quem mais se atreva a não segui-los. Degolas e execuções brutais são mostradas ao mundo, ao vivo e a corres, em tempo real, como se fossem “pegadinhas do Sílvio Santos” ou “vídeocassetadas do Faustão”.
            Em contrapartida, ninguém se esquecerá de que foi o “ano da reconciliação” entre Cuba e Estados Unidos, pondo fim a uma rusga que bestamente se arrastava por mais de meio século. Ponto para Barack Obama e Raúl Castro, que, num gesto de bom senso, resolveram soltar as amarras do passado e, como disse Obama, admitir que “somos todos americanos”.
            Internamente, não faltarão ao brasileiro alternativas para “batizar” o ano que se encerra. Pode, quando muito, haver necessidade de rever alguns títulos antes concebidos.
            De início, aquele que seria o “ano da consagração” futebolística, transformou-se no “ano da frustração”. Jogando em casa, no “Mineirão”, contra a Alemanha, nossa seleção foi alijada da final do torneio, sob uma esmagadora goleada de 7 x 0. Um vexame bem maior que o de 1950, quando o Uruguai nos derrotou por 2x1, em pleno Maracanã.
            Outra ajuda para que a frustração seja um dos símbolos de 2014 é o imoral e infindável escândalo “petrolão”, envolvendo agentes públicos, empresários e políticos de todos os níveis.
            Como há males que vêm para bem, o mesmo escândalo contribuiu para que este seja também o “ano da coragem”, em reconhecimento ao trabalho do juiz federal Sérgio Moro. Especialista em apurar crimes de lavagem de dinheiro, ele não hesitou em mandar pra cadeia e manter presos influentes figurões do mundo empresarial brasileiro. E tem mais gente graúda na fila de espera.
            Mas nem isso impediu a nódoa de “ano do descaramento”, surgida da desfaçatez de nossos políticos. No apagar das luzes, momentos antes de aumentarem os próprios salários, reincidiram em mais um imoral esquema de troca-troca. Na base do ”é dando que se recebe”, aprovaram o projeto de lei que elimina a meta fiscal deste exercício, livrando a presidente da República do risco ser incriminada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma safadeza sem tamanho.
            Certas práticas e virtudes não têm pátria. Assim, 2014 acabou se salvando como “ano da autocrítica e da humildade”. Com a serenidade e a coerência de sempre, o aclamado Papa Francisco aproveitou uma reunião de Natal, para apontar e prescrever tratamento para muitas “enfermidades” que afligem sua Igreja. Ao final, num inédito encontro com funcionários do Vaticano, pediu perdão pelos seus erros e os de seus colaboradores.
            Ainda que parcial, este é o balanço de uma temporada de múltiplas características, merecedora de análise e reflexão, em busca de alivio para os maus presságios que ameaçam o próximo ano. Sem isso, como diria um renomado e anônimo astrólogo, é melhor passar batido, na próxima virada, e apostar em feliz 2016.

- Diário do Rio Doce
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