A
opinião pública e os meios de comunicação têm o hábito de rotular os anos vividos,
em função de episódios que os marcaram.
Em
termos internacionais, por exemplo, o fim da Segunda Guerra Mundial (1945), a
descida do homem na Lua (1969), a queda do Muro de Berlim (1989) e o ataque às
Torres Gêmeas americanas (2001) se tonaram referência dos anos em que
aconteceram.
Na
história recente brasileira, essa mesma repercussão alcançou o suicídio do presidente
Getúlio Vargas (1954), a primeira conquista da Copa do Mundo de Futebol (1958),
a inauguração de Brasília (1960), o fim da ditadura militar (1985) e o impeachment
do presidente Fernando Collor de Mello (1992), entre outros importantes episódios
que sozinhos conseguem simbolizar uma época.
Chegamos
ao final de 2014, outro ano que entrará para a história. Não por um fato
isolado, mas por acontecimentos difusos que, no mínimo, lhe conferem condição
multiface.
No
cenário mundial, será lembrado como o “ano das atrocidades”, em alusão ao
genocídio praticado pelo Estado Islâmico, cujos brutais militantes praticam
todo tipo de crueldade contra mulheres, crianças e quem mais se atreva a não
segui-los. Degolas e execuções brutais são mostradas ao mundo, ao vivo e a
corres, em tempo real, como se fossem “pegadinhas do Sílvio Santos” ou “vídeocassetadas
do Faustão”.
Em
contrapartida, ninguém se esquecerá de que foi o “ano da reconciliação” entre Cuba
e Estados Unidos, pondo fim a uma rusga que bestamente se arrastava por mais de
meio século. Ponto para Barack Obama e Raúl Castro, que, num gesto de bom
senso, resolveram soltar as amarras do passado e, como disse Obama, admitir que
“somos todos americanos”.
Internamente,
não faltarão ao brasileiro alternativas para “batizar” o ano que se encerra. Pode,
quando muito, haver necessidade de rever alguns títulos antes concebidos.
De
início, aquele que seria o “ano da consagração” futebolística, transformou-se
no “ano da frustração”. Jogando em casa, no “Mineirão”, contra a Alemanha,
nossa seleção foi alijada da final do torneio, sob uma esmagadora goleada de 7
x 0. Um vexame bem maior que o de 1950, quando o Uruguai nos derrotou por 2x1, em
pleno Maracanã.
Outra
ajuda para que a frustração seja um dos símbolos de 2014 é o imoral e infindável
escândalo “petrolão”, envolvendo agentes públicos, empresários e políticos de
todos os níveis.
Como
há males que vêm para bem, o mesmo escândalo contribuiu para que este seja também
o “ano da coragem”, em reconhecimento ao trabalho do juiz federal Sérgio Moro. Especialista
em apurar crimes de lavagem de dinheiro, ele não hesitou em mandar pra cadeia e
manter presos influentes figurões do mundo empresarial brasileiro. E tem mais
gente graúda na fila de espera.
Mas
nem isso impediu a nódoa de “ano do descaramento”, surgida da desfaçatez de
nossos políticos. No apagar das luzes, momentos antes de aumentarem os próprios
salários, reincidiram em mais um imoral esquema de troca-troca. Na base do ”é
dando que se recebe”, aprovaram o projeto de lei que elimina a meta fiscal
deste exercício, livrando a presidente da República do risco ser incriminada
por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Uma safadeza sem tamanho.
Certas
práticas e virtudes não têm pátria. Assim, 2014 acabou se salvando como “ano da
autocrítica e da humildade”. Com a serenidade e a coerência de sempre, o aclamado
Papa Francisco aproveitou uma reunião de Natal, para apontar e prescrever
tratamento para muitas “enfermidades” que afligem sua Igreja. Ao final, num
inédito encontro com funcionários do Vaticano, pediu perdão pelos seus erros e os de seus colaboradores.
Ainda
que parcial, este é o balanço de uma temporada de múltiplas características, merecedora
de análise e reflexão, em busca de alivio para os maus presságios que ameaçam o
próximo ano. Sem isso, como diria um renomado e anônimo astrólogo, é melhor
passar batido, na próxima virada, e apostar em feliz 2016.
- Diário do Rio Doce
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