sábado, 16 de agosto de 2014

A ESCOLHA DE MARINA

            Em termos de emoção e solidariedade, tudo já foi dito sobre Eduardo Campos, o jovem candidato do PSB à Presidência da República que morreu em acidente aéreo, na última quarta-feira, 13.
            Familiares, amigos, correligionários e até seus rivais, comovidos com o trágico acontecimento, não têm poupado palavras de elogio à sua pessoa, ressaltando méritos e virtudes que lhe eram inerentes.
            Mais uma vez a morte comprovou sua importância na consagração pessoal. Com ela são sepultadas as dissidências e tudo é relevado. Críticas e restrições se transformam em elogios, aplausos e reconhecimentos que em vida costumam ser sonegados.
            Não é bem o caso de Campos, que já detinha bom índice de aceitação. Simpático, habilidoso, bem-humorado, atencioso e realizador, ele sempre apareceu bem na foto, como pessoa ou homem público. A esta altura, é provável que até as denúncias de nepotismo que o incomodavam tenham ido para o ralo.
            Mas o que mais interessa, agora, é saber como ficará o cenário eleitoral brasileiro, sem a participação de Eduardo Campos. Além do abalo sentimental, sua morte lança uma série de incógnitas, a começar por quem o irá substituir como candidato.
            Pela ordem natural, a opção deverá recair sobre Marina Silva, candidata a vice-presidente na chapa que era por ele encabeçada.
            Esse é o pensamento dominante, defendido pelos líderes dos partidos coligados ao PSB, na chapa "Muda Brasil”, e pelo advogado Antônio Campos, irmão de Eduardo.
            A questão, entretanto, não é tão simples, pois no alto comando do PSB há elementos supostamente interessados em recolocar o partido na base aliada governista. Entre esses Roberto Amaral, respondendo pela presidência da sigla, que, em 2013, sugeriu que Eduardo Campos desistisse da candidatura e apoiasse a reeleição da presidente Dilma. Também foi ele o articulador da aliança PSB/PT que, no Rio de Janeiro, apoia a candidatura de Lindberg Farias ao governo estadual.
            Enquanto a coisa não se define, Dilma e Aécio devem estar perdendo preciosas noites de sono.
            Afinal, dependendo do que acontecer, a reviravolta poderá ser grande, e nem mesmo os cientistas políticos se arriscam a fazer previsões.
            De certo, apenas o fato de a próxima eleição já ter um vencedor. Por ironia do destino, Eduardo Campos sai da cédula de votação, mas entra para a história, na condição de político vitorioso, de novas ideias, que se ofereceu como alternativa a um modelo político ultrapassado, que há 20 anos sufoca o país.
            Em entrevista concedida a jornalistas da TV Globo, na noite anterior à sua morte, ele disse ao telespectador que “ao lado de Marina Silva, eu quero representar a sua indignação, o seu sonho. Não vamos desistir do Brasil, o Brasil tem jeito”.
            Que Marina e o PSB respeitem e comunguem o mesmo pensamento.
 
- Jornal de Domingo

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