A
chamada “vida-cidadã” é realmente cheia de surpresas e, assim, imprevisível.
A situação de hoje, mesmo que aparentemente
enraizada, está sempre sujeita às mais estranhas metamorfoses.
De uma hora pra outra, o indivíduo se dá conta
de que não é nada do que pensava ser, e se transforma no que também nunca
imaginava ser.
Idealizemos
alguém que jamais teve condições de fazer qualquer aquisição, nem mesmo uma
cota do “Baú da Felicidade”. Sempre
sonhou com uma moradia própria, um carro, uma boa escola para os filhos, um confiável
plano de saúde e até mesmo uma viagem turística ao exterior – afinal, a ilusão
é livre e infinita. E grana pra tanta extravagância?! Quando
muito, com seu modesto salário, e na base do “Deus sabe como”, consegue garantir
o “pão nosso de cada dia” e suprir algumas outras prementes necessidades.
Esse
é o brasileiro, de repente surpreendido com a auspiciosa notícia de que é um senhor
investidor.
O
diagnóstico veio embutido em sábio e reconfortante entendimento exposto pelo
não menos sábio ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Pra
defender o maquiavélico ajuste fiscal que o governo quer impingir à nação, incluindo
o retorno da abominável CPMF, o espirituoso Levy teve a cara de pau de afirmar
que vale a pena "pagar um pouquinho mais de imposto" para permitir a
recuperação da economia brasileira. Segundo ele, “é um investimento que vale a
pena. A gente não deve ser vítima de uma miopia na questão dos impostos. Se a
gente tiver que pagar um pouquinho mais de imposto para o país ser reconhecido
como país forte, tenho certeza de que todo mundo vai querer fazer isso”.
O
ministro certamente não percebeu que, se pagar imposto for investimento, o
brasileiro é um megainvestidor. “Beneficiário”
de uma das maiores cargas tributárias mundiais, ele já possui bens de sobra;
não precisa nem quer investir em mais
tributos.
Além
disso, a experiência de mercado ensina que não se deve concentrar recursos em
um único investimento, sobretudo quando esse investimento, além de improdutivo,
é de altíssimo risco.
Pela sua tendência de
cortar gastos, o atual titular da Fazenda é conhecido como “mãos de tesoura”.
Tem um bom currículo, mas só foi cogitado para ministro depois que o banqueiro
Henrique Meirelles (que seria o preferido) antecipou seu desinteresse pelo
cargo, que também foi rejeitado por Luiz Carlos Trabuco, presidente do
Bradesco.
Sem
aparente vínculo partidário, e sem aquele prestígio que dava forças a José
Maria Alkmin, Santiago Dantas, Carvalho Pinto, Delfin Netto, Ernane Galvêas,
Mário Henrique Simonsen e outros notáveis ministros da Fazenda, Levy trafega na
corda bamba. Enquanto “cai não cai”, tenta “premiar” o brasileiro com a conta
do grotesco festival de erros que o governo cometeu nos últimos 12 anos.
A
cada dia, surgem as mais desencontradas informações acerca das pretensões
oficiais. Todas elas
sinalizando a adoção de medidas impopulares.
Enquanto
nada se decide, o dólar continua subindo, o desemprego é crescente e a inflação
segue incontrolável.
Todos nós sabemos que
alguma ou muita coisa precisa ser feita para tirar o país do buraco em que se
encontra. E ninguém se ilude quanto aos sacrifícios que serão exigidos para
essa recuperação. Mesmo a contragosto, e sabendo que isso se dará em detrimento
de outros interesses, o povo está disposto a ajudar.
A dificuldade reside
em aceitar que esses ajustes, além de amargos, sejam planejados e fiquem a
cargo dos responsáveis pela desordem que se quer eliminar.
Bem ou mal comparando,
seria o mesmo que confiar em um programa de reconstrução da Síria e do Iraque, concebido
e conduzido pelo Estado Islâmico. Cadê credibilidade?!
- Diário do Rio Doce
- www.nosrevista.com.br
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