domingo, 4 de outubro de 2015

PODER MAQUIADO

            Na faz sentido, tampouco é justo falar em surpresa ou decepção na reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff anunciou na última sexta-feira.
            Em verdade, nenhum brasileiro minimamente esclarecido esperava nem mais nem menos do que foi feito.
            Pelo contrário, desde que passou a ser cogitada, sabia-se que a medida não passaria de mera maquiagem. Nada além de uma simples dança de cadeiras, com o objetivo de facilitar a aprovação de matérias de interesse do governo no congresso, em especial o ajuste fiscal, e dificultar a instalação de um eventual processo de impeachment da presidente.
            No final das contas, os grandes beneficiários das mudanças foram Lula e o PMDB.
O ex-presidente, porque conseguiu recolocar em pontos-chave homens de sua confiança, como Jacques Wagner, nomeado para Casa Civil, em lugar de Aloízio Mercadante, que nunca teve sua simpatia.
O partido do vice-presidente, Michel Temer, ampliou de seis para sete os ministérios sob seu controle.
Na análise de Igor Gielow, diretor da sucursal de Brasília da Folha de São Paulo, “o governo que tomou posse em 1º de janeiro acabou na manhã desta sexta-feira (sic), 275 dias depois de começado. Dilma Rousseff ainda é presidente, mas a sucessão de erros do Planalto e o agravamento da crise político-econômica deu à luz uma criatura híbrida: a cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mandar no Planalto, o varejo da Esplanada foi dado de vez ao PMDB”.
            Novamente, os interesses do povo foram desconsiderados.
            Em resumo, as mais destacadas providências anunciadas por Dilma foram a extinção de oito ministérios e de três mil cargos comissionados, a eliminação de 30 secretarias ligadas a ministérios, a redução de 10% nos salários da presidente, do vice e dos ministros, e o corte de até 20% nos gastos de custeio do governo.
            Pela estimativa oficial, haverá redução de R$ 200 milhões nos gastos da União.
            Uma análise superficial mostra que isso pouco representa, frente a um rombo orçamentário que, em 2016, deverá ultrapassar a casa dos R$ 60 bilhões.
            Ao mesmo tempo, Dilma anuncia o corte de 3.000 cargos comissionados, num universo que, só na administração direta, gira em torno de 22.000 postos. Se considerada a administração indireta, calcula-se que o número de pessoas empregadas por livre nomeação, sem necessidade de concurso, seja superior a 100.000.
            Conclui-se, pois, que o governo está agindo como uma grande empresa que corta o cafezinho oferecido aos clientes, na tentativa de evitar uma falência. Ou, ainda, aquele indivíduo que usa “Band-Aid”, para curar câncer.
            O pior é que, na ânsia de se preservar no Poder, os governantes acabam adotando decisões tresloucadas, que só contribuem para tornar mais nítida a sua incompetência e agravar o descontentamento popular.
            O país não mais suporta esse clima de instabilidade político-econômica em que se encontra.
            A cada dia, as coisas se tornam mais difíceis para o povo, que, por mais azar, também se ressente da falta de uma liderança lúcida, autêntica, vigorosa e carismática, em que possa depositar esperanças de melhoras.
            O jeito tem sido rezar. Com muita fé!

- Diário do Rio Doce
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