Por Etelmar Loureiro
Apesar dos
tênues sinais de recuperação que o governo tenta potencializar, o Brasil permanece
sob os efeitos de uma inédita recessão econômica.
Na
análise técnica, o fenômeno reflete um período de retração geral na atividade
econômica, com queda nos níveis de produção e investimento, aumento do
desemprego, diminuição na renda familiar, redução na taxa de lucro, elevação do
número de falências e concordatas, avanço da capacidade ociosa e outros
lamentáveis efeitos. Regra geral, uma economia entra em recessão após dois
trimestres contínuos de queda no PIB. No caso brasileiro, esse indicador
encolheu por dois anos consecutivos.
Em
maior ou menor escala, a crise tem afetado a indústria, o comércio, a prestação
de serviços e todos os demais segmentos econômicos. Observadores
mais argutos garantem que nem mesmo o jogo do bicho, o tráfico de drogas e o
comércio do sexo foram poupados. Tá todo mundo “na
pior”!
Para
Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, esse descalabro “é o resultado de uma
série de políticas que levaram a economia brasileira a enfrentar a maior crise
de sua história”. Diante desse panorama, ele admite haver indícios de que “será
inevitável” mexer na carga tributária para cobrir o rombo orçamentário.
Essa
infeliz insinuação de mais impostos provocou enérgicas reações contrárias,
inclusive da Ordem dos Advogados do Brasil. Segundo Claudio Lamachia,
presidente da entidade, a OAB está pronta para combater, com todos os meios
disponíveis, “quaisquer iniciativas que tenham como objetivo impor mais
prejuízos aos cidadãos, que não aguentam mais ver a renda corroída pela absurda
carga tributária do país”.
Exausto de tanto ser explorado,
o brasileiro vive buscando outras explicações e justificativas para esse
desastroso estado de coisas.
Atribui-se ao marqueteiro Nizan Guanaes a autoria da expressão “enquanto eles
choram, eu vendo lenços”. Ela bem repercute a atual temporada, em que não
faltam oportunistas aptos a tirar proveito da situação. Um exemplo são os
bancos, que têm andado na contramão da realidade brasileira. Enquanto esse
segmento está “bamburrando”, nossa economia se afunda, pressionada por falta de
crescimento, empresas subumbindo ou trabalhando no vermelho, desemprego
crescente e pessoas em dificuldade financeira. Pelos balanços relativos a
2016, os quatro maiores bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, BB e Santander)
lucraram, em conjunto, algo em torno de R$ 52 bilhões. Tá bom, ou quer mais?
São muitas as razões para que esses formidáveis resultados aconteçam. Uma
delas, pacificada entre os analistas, são os altissimos juros rendidos pela
dívida pública, essa crescente bola de neve que consome enorme parcela do que o
governo arrecada. Ou seja, o dinheiro do contribuinte está sendo usado
para alimentar o lucro bilionário dos bancos.
O peso dessa dívida e a caixa preta que a envolve têm sido objeto de
questionamento, no instante em que se busca o equilíbrio das contas públicas, à
custa de maiores sacrifícios do povo. A opinião geral é que, antes de mexer na
aposentadoria e em outros direitos do cidadão, o governo tem a obrigação de
enxugar sua escorchante dívida pública.
Afinal - diria o famoso Guanaes -, não há como admitir que os
banqueiros continuem “vendendo lenços”, com lucros astronômicos, enquanto a
sociedade, chorando enormes prejuízos, é condenada a pagar a conta. Mais do que
injustiça, é muita sacanagem!
- Revista "Mais Mais PERFIL" de abril 2017
Bem dito . . .
ResponderExcluirenquanto uns choram, outros vendem lenços . . . !