Por Etelmar Loureiro
Os
temas polêmicos estão entre os mais utilizados pelos autores de livros, filmes,
peças teatrais e novelas, para despertar maior interesse por suas obras.
Nessa
prática, a novelista global Glória Perez é campeã. Em suas histórias, não
hesita em expor questões melindrosas, como barriga de aluguel, tráfico de
mulheres, clonagem humana e sexualidade. E o faz com naturalidade e
transparência, mas sempre deixando dúvida quanto à solução ideal para o
problema, frente à ética e à moral. Ela mesma admite que sua contribuição para
a dramaturgia foi promover a união entre a realidade e a ficção.
No
texto produzido para a telenovela A Força do Querer, Glória Perez colocou em
discussão novos e palpitantes assuntos, com ênfase para o tráfico de drogas, a
transexualidade e o vício em jogos de azar.
Apesar dos invejáveis índices de
audiência alcançados pelo folhetim global, a autora não se livrou de ser “malhada”
por críticos mais conservadores. Entre outras choradeiras, uns a acusam de glamorizar
o crime, transformando traficantes em heróis de favela, com resultados que
induzem a acreditar que o crime compensa. Outros reclamam que ela faz apologia
à mudança de sexo, o que causa problemas às famílias onde haja alguém com essa
propensão. E a Globo mais uma vez se transformou na vilã da história.
Nas
décadas de 1940 a 1960, quando o cinema era considerado a principal diversão,
os pais eram orientados a evitar que crianças e jovens assistissem a muitos
policiais e faroestes. Acreditava-se que os enredos, a violência e o uso de
armas mostrados nesses filmes poderiam repercutir na formação de seus filhos. Ledo
engano! Nada disso se confirmou, pelo menos não na dimensão alardeada.
Obras de ficção sofrem influência da
vida real. Mesmo quando baseadas na
verdade, prevalece a ressalva de que
“qualquer semelhança com fatos ou pessoas vivas ou mortas é mera coincidência”. As rejeições
a seu conteúdo quase sempre derivam de princípios morais, familiares ou
religiosos. Mas podem ser fruto da desinformação, da resistência em conviver
com a realidade, ou da conjugação de tudo isso.
A violência, a criminalidade, o uso e o tráfico de
drogas, o envolvimento com a jogatina, os dramas familiares e outras mazelas
que causam transtornos e perplexidade sempre existiram, nas ruas e nos lares. Os transgêneros e outros seguidores de diferentes
tipos de orientação sexual aparecem com desenvoltura nos mais remotos registros
históricos. Dizer que são estimulados pelas novelas da Globo é uma tremenda
balela. Seria o mesmo que culpar o Jornal Nacional pela existência do mensalão,
do petrolão e de tantas tramoias reiteradamente praticadas por políticos,
agentes públicos e empresários que não se cansam de afrontar o povo brasileiro.
Não se trata de defender essa ou aquela emissora de
televisão, tampouco a sua programação. Também não há intenção de julgar
aspectos éticos, morais ou científicos das questões, grupos e comportamentos
sociais aqui mencionados. Partindo do entendimento próprio de que eles são
realidade, o propósito é defender que sejam discutidos abertamente, sem falsos pudores,
e não deixados sob os tapetes que enfeitam os porões da hipocrisia.
Para o próprio bem, a sociedade
deve conscientizar-se de que a vida está sujeita a um processo de evolução
irrefreável, em que o espaço para dogmas, tabus e “caixas pretas” é cada vez
mais escasso. Não há como ficar a reboque da realidade, presos a paradigmas que
o próprio tempo tem se encarregado de romper. Concordando com Mahatma Gandhi, “temos que nos tornar a mudança que queremos ver”. Enquanto há chance!
- Revista "Mais Mais PERFIL" - edição de out/2017
... tudo D+ é . . . SOBRA !
ResponderExcluiramigo Etelmar, belissimo texto, não sei se seria uma leve discordancia, mas penso que a TV GLOBO interfere, e influencia no comportamento de uma boa gama do povo brasileiro. Se classe A, B C ou D, não seria determinante, mas que com esta influencia temos sinais negativos, eu não tenho duvidas...um abraço
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