quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A HORA DA MEGA

Por Etelmar Loureiro
           
            Decepcionado e desiludido com o que acontece no cenário político nacional, e sentindo-se impotente diante da triste realidade, o brasileiro, resolveu “entregar pra Deus”.  Seu foco, pelo menos no momento, está voltado para coisas mais amenas, tipo viagens, futebol, cinema, teatro, telenovelas, resenhas botequeiras, passeios em shoppings, e por aí vai.
            Ainda agora, indiferente a mais um jogo de “toma lá, da cá” entre o governo e seus aliados, desta vez envolvendo a polêmica reforma da Previdência, o povo curte outro lance. As atenções da galera se concentram em mais uma edição da tradicional Black Friday, programada para amanhã. Nas lojas físicas ou virtuais, uma avalanche de compradores estará correndo atrás de móveis, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, roupas, alimentos, bebidas e tudo o mais que alimenta o espírito consumista dos humanos.
A Black Friday, como se sabe, é uma expressão inglesa, reservada à última sexta-feira de novembro, logo após o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving Day), que, nos Estados Unidos, é um dos mais importantes feriados. É a data em que o comércio americano promove uma megaliquidação de estoques, com enormes descontos, dando início às vendas de Natal.
A ideia conquistou o mundo. No Brasil, embora o Dia de Ação de Graças não seja muito difundido, o mercado pegou carona na liturgia americana, e a Black Friday segue a mesma agenda. A primeira edição brasileira do evento aconteceu no dia 28 de novembro de 2010, e foi totalmente online. A partir de então, bem aceita pelos consumidores, a iniciativa adquiriu forças e incorporou-se definitivamente ao nosso calendário comercial.
Habilidoso, criativo e como sempre esperto, o brasileiro identificou na Black Friday a oportunidade de alavancar não só a comercialização de produtos de prateleiras, mas também de outros itens e serviços que não figuram entre os convencionais. Nos meios de comunicação, eles estão sendo ofertados à exaustão, sem qualquer constrangimento.
Nutricionistas oferecem planos de tratamento pelos quais a cliente paga para emagrecer dois, mas perde três quilos.
Em um site especializado, garotas de programa se anunciam na base do contrate uma e leve duas, ou do pague cabelo, barba e bigode, e ganhe a costeleta.
Na Justiça, criminosos propõem fazer delações premiadas, com 50% de abatimento, enquanto alguns juízes admitem dobrar a redução das penas desses delatores.
O vigário de uma pequena paróquia, ao Sul do Norte piauiense, também garante diminuir à metade a penitência dos que se confessarem durante o evento.
Mas é na política que a Black Friday promete bombar. Fala-se, inclusive, que as negociações se iniciaram na noite de ontem, no jantar que o presidente ofereceu a seus aliados, na tentativa de persuadi-los a aprovar as mudanças na Previdência, ainda neste ano.  Ali, segundo fontes fidedignas, o “toma lá, dá cá” correu solto. Havia partidos oferecendo apoio, com desconto de 20, 30 e até 50%, outros dando três deputados, por uma diretoria de estatal, ou dois senadores, por um ministério; coisa de doido!
Na internet rolam também comentários bem humorados. Um deles, afirma que “o brasileiro se sente preparado para a Black Friday; só falta achar produtos com 100% de desconto”.  Outro pondera que “Black Friday sem dinheiro é igual pular carnaval com a esposa: nada além de observar as oportunidades passarem”.
Brincadeiras à parte, o negócio é esperar até amanhã, pra conferir se, de fato, a promoção não incorre na já conhecida “black fraude”. O segredo é, antes de “passar o cartão”, ficar atento, para não embarcar em promessas enganosas, tampouco comprar um produto pela “metade do dobro”.
A friday pode ser black, mas que a sua sexta-feira não seja negra!

- Diário do Rio Doce- 23.11.2017

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