Por Etelmar Loureiro
Nas
cidades civilizadas, as calçadas são mais do que simples vias por onde
transitam pedestres. São também locais de convivência, em que as pessoas se
veem, trocam cumprimentos e até se detêm em longas conversas. Elas
fazem parte da vida do cidadão, ligando-o aos serviços de que se utiliza e aos
lugares que frequenta. Costumam ser, ainda, atrações turísticas, como a
“Calçada da Fama”, em Hollywood (USA), ou as mundialmente admiradas calçadas
portuguesas, no Brasil tão bem representadas pelo calçadão da Praia de
Copacabana.
Com o trânsito cada vez mais caótico, ao que se soma a
precariedade do transporte público, caminhar transformou-se em boa alternativa
para os deslocamentos pessoais. Conforme o último levantamento do Ibope (2015),
cerca de 22% das locomoções cotidianas são realizadas a pé. Não só por ser uma
opção saudável, que permite interagir com a cidade e seus moradores, mas devido
ao elevado custo do transporte público. São necessárias, pois, calçadas
adequadas, em quantidade e qualidade capazes de atender a
crianças, jovens, adultos, idosos e deficientes físicos.
Entretanto, nos dias atuais, essa prática passou a ser uma prova
de obstáculos para os que a ela se dedicam. Os desafios vão da péssima condição
dos passeios públicos, cheios de buracos, desníveis, degraus, alagamentos e
outras deficiências, até a sua ocupação por bancas de revistas, camelôs,
cavaletes publicitários, filas de bancos, financeiras e casas lotéricas,
entulhos, mesas de bares e outras parafernálias. Sem falar nos incômodos
pedintes, malandros e drogados que se agrupam em certos pontos das passarelas,
constrangendo os transeuntes.
Defensores desse espaço essencial para garantir a mobilidade
urbana, os pernambucanos Francisco Cunha (consultor de empresas) e Luiz
Helvécio (engenheiro) escreveram o livro “Calçada: o primeiro degrau da
cidadania urbana”. Na obra, com rubustos argumentos, eles advogam a ideia de
que o desrespeito à calçada é também um desrespeito ao direito de ir e vir,
comum a todo cidadão.
Na opinião de Cunha, “sem podermos trafegar por calçadas
seguras, desobstruídas e regulares, estamos impedidos – ou não podemos fazê-lo
dignamente –, de chegar ao trabalho, à residência, à escola e até mesmo ao
transporte público. Ficamos isolados, ou gravemente restringidos por carros
invasores, barracas, lixo, esgotos estourados e inúmeros outros abusos que
atormentam a vida do cidadão pedestre”.
A importância de preservar e construir calçadas cresce na
proporção direta do vertiginoso aumento da frota de veículos, esse fenômeno que
a todos vem causando sérias preocupações. Com as ruas tomadas por automóveis,
caminhões, motos e bicicletas, o pedestre se sente cada vez mais confinado nos
passeios públicos.
O problema é nacional, com ênfase nas localidades onde as
prefeituras são mais omissas e as comunidades menos zelosas dos próprios
interesses.
Nesse contexto, Valadares, comparada a outras localidades do
mesmo porte, deixa muito a desejar. De modo geral, suas calçadas se encontram
em estado lastimável. A necessidade de revitalizá-las há muito caiu no
esquecimento do Poder Público e de grande parte dos proprietários de imóveis.
Que o digam os que preferem andar nos quarteirões próximos às suas residências,
os idosos, os deficientes físicos, sobretudo os cadeirantes, os pais que
gostariam de transportar seus filhos em carrinhos de bebê, e tantos mais.
Os especialistas em mobilidade urbana asseguram que a qualidade
das calçadas é o melhor indicador de desenvolvimento humano, além de funcionar
como um sensor para medir o nível de civilidade de um povo. Sem discordância!
- Diário do Rio Doce - 07.12.2017
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