sábado, 5 de fevereiro de 2011

REPRISES INDESEJÁVEIS (16.01.2011)


            Há praticamente um ano, o Brasil acordava com o estrondo de enorme deslizamento de terras no litoral sul fluminense, causador de dezenas de mortes em Angra dos Reis e Ilha Grande.
             A catástrofe aconteceu na noite de réveillon, interrompendo sonhos dos que ali se encontravam para uma festiva passagem de ano. Em lugar de comemorações, os sobreviventes se viram na contingência de acumular forças para tentar reconhecer e sepultar amigos e familiares.
            Passados apenas quatro meses, sobreveio novo grave acidente, também no estado do Rio. Em Niterói, inúmeras casas construídas no Morro do Bumba foram soterradas, formando outro contingente de vítimas fatais. O local era apenas um antigo aterro sanitário desativado. Aos poucos foi ocupado por pessoas que ali edificavam suas casas, talvez ignorando o perigo a que se expunham. Uma tragédia anunciada.
            Em ambos os casos pagou-se preço muito elevado pela ocupação de áreas de risco, sujeitas a fatalidades.
            Esses desastres continuam se repetindo, quase sempre nas mesmas regiões, com semelhança e regularidade impressionantes. A cada ano vê-se um cenário mais desolador, sugerindo que “pior do que este, só o próximo”.  A recorrência já se faz tão previsível quanto o Natal, o carnaval ou a reedição do Big Brother Brasil.
            Nem assim as autoridades têm encontrado motivação para planejar e implementar ações preventivas capazes de, quando nada, minimizar as conseqüências desses fenômenos. Omissão até certo ponto compreensível, pois tais iniciativas não costumam render votos.
            O Brasil não é a única vítima de enchentes, desmoronamentos, inundações, queimadas, secas e outras calamidades. Elas acontecem em qualquer lugar, castigando pobres e ricos, em pequenos e grandes centros. A diferença fica por conta da quantidade de vítimas e da intensidade da destruição. Sofrem menos as nações mais desenvolvidas, onde os recursos públicos são corretamente aplicados em planejamento, prevenção e educação do povo. Estágio ainda não alcançado por nosso país.
            As centenas de mortes e os prejuízos resultantes dos temporais que recentemente se abateram sobre São Paulo e a região serrana fluminense são alarmantes, irreparáveis e inaceitáveis. Mas dão aos governantes outra chance de meditar sobre suas responsabilidades e o que precisam fazer para evitar o “vale a pena ver de novo”. Com a certeza de que investir em prevenção é melhor e mais gratificante que gastar na reconstrução de áreas destruídas e na busca de corpos soterrados.

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