sábado, 5 de fevereiro de 2011

SILÊNCIO PREOCUPANTE (23.01.2011)

           
            Acostumado com o ritmo frenético do governo Lula, em que havia sempre um fato novo capaz de surpreender ou decepcionar, a opinião pública mostra-se preocupada com a forma bem comportada da administração Dilma.
            A calmaria é tanta que, não fossem as notícias da tragédia provocada pelas chuvas no estado do Rio de Janeiro, os meios de comunicação estariam em recesso. Ou teriam ampliado a duração das novelas, dos reality shows e das demais atrações de sua grade de programação.
            Em termos políticos, o foco tem sido a famigerada e constrangedora disputa de cargos entre partidos. No campo econômico-financeiro, o destaque ficou por conta do já esperado reajuste da taxa Selic, decidido pelo Comitê de Política Financeira, no correr da última semana. De resto, só perfumaria incapaz de gerar notícias empolgantes.
            Para agravar, a presidente tem falado e aparecido muito pouco. A rigor, depois de sua posse, só marcou presença quando foi conferir, no local, os estragos acontecidos na região serrana fluminense. Seus ministros e porta-vozes é que têm repassado à população algumas informações sobre as idéias que alimenta.
            Enquanto isso, Dilma estaria empenhada em fazer deslanchar o plano dos primeiros 100 dias de governo - dos quais vinte e três já se passaram – e em eleger ações mais importantes e abrangentes.
Tudo bem que não faça alarde ou mantenha sob reserva seus projetos estratégicos ou eventuais mudanças profundas que pretenda executar. São deliberações que de fato precisam amadurecer, antes de serem divulgadas.
Mas há ocasiões em que Dilma não poderia abdicar de atitudes próprias, nem temer a exposição de sua imagem, sob pena de decepcionar. Parece que ela não percebeu, nem foi alertada quanto a isso.
Já na escolha de seu primeiro escalão, sustentou em seu ministério Pedro Novais (PMDB/MA) e Ideli Salvatti (PT/SC), apesar das notícias de que teriam praticado malversação recursos públicos.
Mantém indefinido o caso dos passaportes diplomáticos indevidamente concedidos aos filhos e neto de Lula e a um bispo da Igreja Universal. O que também acontece com a decisão de não extraditar o italiano Cesare Battist. Duas bombas deixadas pelo governo anterior, para explodirem no atual.
Segundo o noticiário, está agora na contingência de explicar o desvio de meio bilhão de reais acontecido na Funasa – outra herança da administração Lula. A denúncia partiu da Controladoria Geral da União (CGU), órgão vinculado à Presidência da República.
A verdade é que o silêncio de Dilma começa a provocar uma incômoda sensação de vazio de poder. A esperança é de que ele signifique apenas um novo estilo de governar. Embora possa ser também entendido como incapacidade para agir na forma e na hora certas.
Por enquanto, qualquer julgamento seria precipitado. A presidente dispõe de tempo para mostrar a que veio. Mas precisa ficar atenta às situações em que seu silêncio dará margem a equivocadas interpretações. Entre elas a controvertida presunção de que quem cala consente.

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