terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CONTAS SEM FUNDOS

            Todo banco comercial é depositário de uma ou mais contas cujo saldo devedor nunca consegue apurar. Sempre que está prestes a fazê-lo, aparecem novos cheques sem fundos dos titulares, botando todo o trabalho a perder.
            Guardadas as devidas proporções, o Brasil se assemelha a um grande banco, em que a vida pública é a conta-corrente movimentada por agentes de governo, políticos e empresários. Nela se escrituram as ações, atitudes, comportamentos e tudo o mais que tenha reflexos nos destinos do país.
            Essa conta tem estado sempre no vermelho, com tendência de se tornar cada vez mais negativa. Os lançamentos de frequentes escândalos superam em muito os de honestas realizações, provocando enorme defasagem entre o lícito e o ilícito. Parece uma conta sem limite, mal controlada, da qual muitos possuem senha e dela se utilizam à vontade. Difícil, assim, dimensionar o rombo, sem saber se ou quando acontecerá novo desfalque.
            Veja-se o caso do mensalão, que parecia ser o ápice da falcatrua. Atingindo a fina flor do poder, ninguém poderia imaginar que algo mais chocante viesse à tona, pelo menos numa rápida sequência.
            Ledo engano. Antes mesmo de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir seu julgamento, o “affair” adquiriu outra dimensão, com a divulgação de denúncias feitas pelo publicitário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, tentando envolver o ex-presidente Lula no plano criminoso. As acusações são gravíssimas.
A essa altura, já estava na mídia mais um escândalo republicano. Era a Operação Porto Seguro, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular uma organização criminosa que se dedicava a obter pareceres técnicos fraudulentos em benefício de interesses privados. Talvez passasse despercebida, não fosse o fato de alcançar importantes figuras do governo, inclusive a servidora Rosemary de Noronha, chefe do escritório regional da Presidência da República em São Paulo e protegida de Lula. Há muito o que explicar, em casa e à nação.
            Esses novos casos prometem desdobramentos, pois alguns acusados não querem pagar o pato sozinhos: ameaçam abrir o jogo.
            Equivale dizer que a temporada de escândalos está longe de se encerrar e que a conta-corrente oficial permanecerá escancarada.
            Resta observar que correntista bancário tem CPF, identidade e endereço, sendo fácil responsabilizá-lo por seus atos. Na vida pública, os contraventores costumam não deixar rastros, não emitem recibos e, quando descobertos, têm por praxe negar seus erros ou nunca saber de nada. Pra esses, só cadeia!

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