quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PRINCÍPIO DO FIM

De Etelmar Loureiro
Diário do Rio Doce - 20.12.2012
 
          Como se não bastassem os transtornos provocados pelas inúmeras catástrofes e guerras com que já convive, a resistência humana ainda tem que administrar a tensão resultante das repetidas ameaças de fim do mundo.
As profecias são antigas e recorrentes. Existem desde o começo da humanidade; todos deveriam estar acostumados. Entretanto, sempre que se repete, a ameaça é motivo de agitação e sobressaltos, sobretudo por parte dos que costumam deixar tudo pra última hora. É um corre-corre sem tamanho, na tentativa de resolver em um só tempo o que foi negligenciado a vida inteira.
Nova catástrofe entrou na ordem do dia. O término do ciclo Maia deu origem à previsão de que o mundo acabaria amanhã (21), com o choque entre a Terra e o planeta Nibiru. Segundo a Nasa, a possibilidade de que isso aconteça é tão grande quanto à de José Dirceu chegar a ministro do Supremo Tribunal Federal.
Mesmo assim, tem muita gente na base do “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.
            Os dirigentes do Atlético mineiro, por exemplo, para que seu time não acabe no prejuízo total, colocaram à venda o passe de Ronaldinho Gaúcho, pela metade do preço. O Grêmio se interessou, mas só paga em prestações, com dois meses de carência.
            Outro Ronaldo, o fenômeno, faz tudo para recobrar o tempo e o peso perdidos na dieta da Medida Certa: devora qualquer coisa que lhe ofereçam. Não quer sair franzino desta vida.
            Entre os políticos, o deputado Paulo Maluf tenta, por todos os meios, acomodar-se em uma das naves que hoje decolarão rumo ao espaço, onde permanecerão até o término do apocalipse. Por uma vaga, paga qualquer preço, desde que aceitem cheque pré-datado.
            Com a intenção de aplacar mágoas passadas, Fernando Collor pretendia levar lembrancinhas para o irmão Pedro, o escudeiro PC Farias e outros cupinchas que já se foram. Mudou de ideia quando soube que apenas no céu é permitido entrar com presentes.
            Inconformado, Sarney reclama do destino, brandindo que vai sob protesto. Acha absurdo ser destronado do feudo maranhense e despojado do mandato de senador, de forma tão prematura.
            Os condenados do mensalão, mesmo tristes com o desfecho, exibem um sorriso de vingança: Joaquim Barbosa ganhou, mas não leva.
            Numa autêntica jogada de marketing, Dilma Rousseff promete um pronunciamento de despedida, na noite de hoje, quando anunciará o PAC Ressurreição.
            Quem ainda não esboçou qualquer reação é o ex-presidente Lula. Parece que ele não sabe da profecia.
Enquanto alguns se exasperam, outros estão “nem aí” para o prognóstico. Alinhados com os economistas, confiam em que o fim do mundo não inclui o Brasil, porque o país não tem estrutura, nem recursos para receber um evento deste porte.
Mais realistas, outros ficam com o Macaco Simão, para quem "brasileiro não tem medo do fim do mundo em 2012, tem medo do fim do mês. Fim do mês é o fim do mundo em parcelas”.
Pelo sim, pelo não, é melhor jogar com as duas hipóteses.   Se amanhã nada acontecer, a vida seguirá seu curso normal, ancorada no salutar princípio de um fim cada vez mais lento e gradual. Se o mundo de fato acabar, bom será assistir à cobertura completa, no Fantástico do próximo domingo. Até lá!

 

 

                       

           

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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