sexta-feira, 29 de março de 2013

DO ACHAR AO AGIR

            
            Bem que os moradores da Região Serrana do Rio mereciam outro programa, na manhã da última terça-feira (19). Os católicos, em especial, poderiam estar no Vaticano ou diante da televisão, curtindo a  posse do papa Francisco. Mas, premidos pela necessidade, empunhavam enxadas, picaretas e usavam as próprias mãos, para remover toneladas de lama e escombros, à procura de parentes, amigos, vizinhos e outras pessoas soterradas. O lugar foi novamente atingido por fortes chuvas, causadoras das tragédias que se repetem todos os anos.

            O quadro é recorrente na área, com grande semelhança e absoluta regularidade. Tornou-se tão previsível quanto o Natal e o Carnaval.
            Nem assim as autoridades têm colocado em prática ações capazes de evitar que as conseqüências sejam ditadas pela força dos fenômenos.  Se neste ano o contingente de mortos e desabrigados está abaixo do contabilizado na catástrofe de 2011, isso pouco se deve a ações preventivas do poder público. A natureza é que cobra menos.
            Desmoronamentos, inundações, queimadas, secas e outras calamidades ocorrem em qualquer lugar do mundo, atingindo pobres e ricos, nos seus respectivos redutos. O que as diferencia é quantidade de vítimas e a intensidade dos estragos. Sofrem menos as nações mais adiantadas, onde os recursos públicos são corretamente empregados em planejamento, prevenção e educação do povo. O Brasil ainda não alcançou esse patamar.
            As mortes e prejuízos provocados pelos acontecimentos climáticos que se repetem em vários pontos do país são alarmantes e inaceitáveis. Isso porque os governantes muito prometem, mas pouco fazem em termos de precaução e reparação de danos.  
            Quando surgem as catástrofes, não faltam a demagogia dos que tentam aparecer como paladinos das vítimas e o cinismo dos que recorrem ao absurdo, para disfarçar omissões e transferir responsabilidades.
            Em janeiro de 2011, quando a chuva quase arrasou as cidades de Petrópolis, Novas Friburgo e Teresópolis, soterrando centenas de pessoas, o governo prometeu, entre outras coisas, novas e seguras moradias aos milhares de desabrigados. Mas nada se viu, além da instalação de algumas sirenes e de um ganancioso desvio de dinheiro público, envolvendo prefeitos, secretários e outras autoridades públicas.
Vem agora a presidente Dilma Rousseff censurar os que insistem em morar em áreas de risco, como se eles tivessem alternativa.
Numa entrevista concedida em Roma, disse achar que “vão ter de ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar, porque aí não tem prevenção que dê conta, se você fica numa região, num determinado lugar, mesmo sabendo que tem que sair (…)”.
            Pelo visto, o poder público está consciente do que precisa ser feito. Não o fazendo, incorre em criminosa omissão.
            Problemas como o da Região Serrana precisam ser atacados com urgência e seriedade, sob a convicção de que investir em prevenção é melhor e mais gratificante que gastar na reconstrução de áreas destruídas e na busca de corpos soterrados.
            Governo responsável não só acha, age!

Jornal de Domingo de 24.03.2013

                       








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