domingo, 18 de maio de 2014

S.M., O CONSUMIDOR

            A polêmica em torno do funcionamento do comércio nos domingos e feriados é antiga e, pelo visto, interminável.
            As opiniões se dividem e, por mais que conversem as partes interessadas, nunca se chegou ao padrão universal de procedimento a adotar. O critério varia de cidade para cidade, de estado para estado, de país para país.  
            A questão é complexa, pois mexe com tradições, usos e costumes, princípios religiosos, interesses econômicos e sociais, enfim, uma gama de fatores a que comerciantes e comerciários se apegam na defesa de suas posições. E todos se arvoram de donos da razão, o que é compreensível.
            Um cardápio de ofertas mais variado, a possibilidade de compra e venda através da internet, afora outras modernidades, têm aumentado a concorrência, contribuindo para que muitas posições conservadoras sejam revistas.
            No mundo inteiro a flexibilização do horário de funcionamento do comércio virou tendência.
            Em Valadares, o setor varejista está submetido à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) celebrada em novembro-2013, entre o Sindicato do Comércio de Governador Valadares (Sindicomércio) e o Sindicato dos Empregados no Comércio de Governador Valadares (Secom-GV).
            Por esse acordo, nos domingos e feriados, os supermercados, hipermercados, mercearias, armazéns, açougues e hortifrutigranjeiros passaram a funcionar de 8 às 14horas.  Antes, os supermercados podiam permanecer abertos até as 22 horas.
            Desprezado nas negociações, o consumidor não gostou da decisão. Prefere o regime anterior, que lhe dava mais tempo, conforto e facilidade para fazer compras.
            Por outro lado, interesses classistas à parte, uma cidade tipo Governador Valadares, com “status” de polo regional, precisa se dispor a fazer concessões, flexibilizar e romper com certos paradigmas.
O Cadastro Geral de Empregados e Desenvolvimento (Caged) mostra que em março último o número de desempregos nos setores de comércio e serviços valadarenses foi maior que o registrado no mesmo mês do ano anterior.
Na análise de Geralda Gonçalves, gerente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-GV), entre os fatores que para isso contribuíram, está, especificamente, a redução do horário de funcionamento dos supermercados, nos domingos e feriados. Segundo ela, houve uma significativa quantidade de demissões em função disso.
Nada de ferir preceitos religiosos, muito menos contribuir para a desagregação familiar, tolhendo o descanso e o lazer a que todos têm direito. Na realidade, entretanto, pouco adianta brigar por essas regalias, sem ter condições econômico-financeiras de delas usufruir. Tanto assim que, se alguma empresa abrir inscrições para trabalho aos domingos e feriados, é provável que o número de interessados exceda as expectativas. Quando cada um sabe onde o sapato aperta, prevalece a Teoria da Conveniência.
            É sempre ruim restringir ou obrigar.  Ideal seria chegar-se a um consenso, onde cada segmento do comércio tivesse autonomia para determinar seu tempo de funcionamento.
            O horário livre, praticado em muitos outros locais, é também possível em Valadares, desde que, além de boa vontade, visão empresarial, e respeitadas as exigências legais, haja prévio entendimento entre patrões e empregados.
            No mais, é ouvir e acatar a vontade daquele que compra, gera impostos e faz as coisas acontecerem: Sua Majestade, o Consumidor.  

 

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- Diário do Rio Doce
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