domingo, 12 de julho de 2015

DE GREGOS E TROIANOS

                           
     Cada vez mais decepcionado com a situação desordenada em que se encontra o Brasil, percebendo que a tendência é piorar; e sem ter pra onde correr, o brasileiro parece ter sido tomado por uma apatia crônica. Na verdade, descrente quanto à possibilidade de uma reação conjunta mais coesa e eficaz, e consciente de que sozinho nada pode fazer, ele se entregou a um marasmo que não consegue superar, e talvez nem queira.
     Nas esquinas, nas mesas de boteco, nos encontros sociais, nas saunas, nos bordeis, e onde mais as pessoas se reúnam, o chororô é constante e unânime. Todos criticam, lamentam, esbravejam, xingam os governantes, mas não passa disso. Desfeita a roda, cada um vai pro seu canto, carregando dificuldades que não sabe como administrar. Quando cai na real, o cara se dá conta de que só lhe resta o desafiador “salve-se quem puder” ou o resignado “seja o que Deus quiser”.
     Essa é a situação de que políticos e governantes, sempre ardilosos, se aproveitam para ampliar vantagens próprias e infligir decisões lesivas ao interesse popular.  As medidas draconianas impostas a pretexto do ajuste fiscal em curso, mostram o quanto é danosa essa indiferença popular. Tudo é aceito de forma mansa e pacífica, sem questionamentos, ao contrário do que ocorre no exterior.
     Ainda agora, vem da Grécia preciosa mostra de como uma nação deve se comportar para preservar sua soberania, recusando-se a fazer o que outros querem que lhe impor.
     Em difícil situação econômico-financeira, aquele país está à beira de uma bancarrota. Ao longo de vários anos, gastou mais do que podia, e agora não tem como honrar seus compromissos.
     Mantendo uma inchada máquina pública, pagando exorbitantes salários e altas aposentadorias à elite política, além de maquiar contas públicas através de “pedaladas” fiscais, a Grécia se endividou além do possível, tornando-se refém da Comunidade Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu.
     Necessitado de mais recursos, o país foi pressionado pelos credores a adotar medidas de austeridade, entre elas o aumento de impostos e o corte nas aposentadorias.
     De modo soberano, o governo grego houve por bem submeter a exigência à apreciação popular.          As urnas mostraram que mais de 60% da população rejeitaram aquelas imposições, que foram afinal rechaçadas.
     O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, festejou esse resultado, enfatizando que a precária situação do país não se deve aos cinco meses em que está no cargo, mas sim aos "cinco anos de resgates que condenaram a economia grega".
     Apontando que a carga das reformas deve recair em quem pode assumi-las, acrescentou que "é preciso deixar de fazer como foi feito até agora, com o peso recaindo sobre os ombros do povo".
     No Brasil, grandes dificuldades econômico-financeiras também decorrem de graves erros cometidos pelo governo. Porém, aqui, todos os ajustes estão sendo feitos à custa do sacrifício de empresários, trabalhadores, aposentados e outros indefesos integrantes da sociedade, aos quais não é dado o mínimo direito de opinar.
     A verdade é que não dá para comparar atitudes de governantes que se inspiram em Sócrates, Platão, Aristóteles e outros grandes filósofos, com as daqueles que se pautam pela doutrina petista e os ensinamentos dos marqueteiros que hoje dominam nosso país. Mais fácil, ao que parece, seria conciliar gregos e troianos. E olhe lá!!!

- Diário do Rio Doce

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