Cada vez mais decepcionado com a situação desordenada em
que se encontra o Brasil, percebendo que a tendência é piorar; e sem ter pra
onde correr, o brasileiro parece ter sido tomado por uma apatia crônica. Na
verdade, descrente quanto à possibilidade de uma reação conjunta mais coesa e
eficaz, e consciente de que sozinho nada pode fazer, ele se entregou a um
marasmo que não consegue superar, e talvez nem queira.
Nas esquinas, nas mesas de boteco, nos encontros sociais,
nas saunas, nos bordeis, e onde mais as pessoas se reúnam, o chororô é
constante e unânime. Todos criticam, lamentam, esbravejam, xingam os
governantes, mas não passa disso. Desfeita a roda, cada um vai pro seu canto, carregando
dificuldades que não sabe como administrar. Quando cai na real, o cara se dá
conta de que só lhe resta o desafiador “salve-se quem puder” ou o resignado
“seja o que Deus quiser”.
Essa é a situação de que políticos e governantes, sempre
ardilosos, se aproveitam para ampliar vantagens próprias e infligir decisões lesivas
ao interesse popular. As medidas
draconianas impostas a pretexto do ajuste fiscal em curso, mostram o quanto é
danosa essa indiferença popular. Tudo é aceito de forma mansa e pacífica, sem
questionamentos, ao contrário do que ocorre no exterior.
Ainda agora, vem da Grécia preciosa mostra de como uma
nação deve se comportar para preservar sua soberania, recusando-se a fazer o que
outros querem que lhe impor.
Em difícil situação econômico-financeira, aquele país
está à beira de uma bancarrota. Ao longo de vários anos, gastou mais do que
podia, e agora não tem como honrar seus compromissos.
Mantendo uma inchada máquina pública, pagando
exorbitantes salários e altas aposentadorias à elite política, além de maquiar contas
públicas através de “pedaladas” fiscais, a Grécia se endividou além do
possível, tornando-se refém da Comunidade Europeia, do Fundo Monetário
Internacional e do Banco Central Europeu.
Necessitado de mais recursos, o país foi pressionado
pelos credores a adotar medidas de austeridade, entre elas o aumento de
impostos e o corte nas aposentadorias.
De modo soberano, o governo grego houve por bem submeter
a exigência à apreciação popular. As urnas mostraram que mais de 60% da
população rejeitaram aquelas imposições, que foram afinal rechaçadas.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, festejou esse
resultado, enfatizando que a precária situação do país não se deve aos cinco
meses em que está no cargo, mas sim aos "cinco anos de resgates que
condenaram a economia grega".
Apontando que a carga das reformas deve recair em quem
pode assumi-las, acrescentou que "é preciso deixar de fazer como foi feito
até agora, com o peso recaindo sobre os ombros do povo".
No Brasil, grandes dificuldades econômico-financeiras
também decorrem de graves erros cometidos pelo governo. Porém, aqui, todos os
ajustes estão sendo feitos à custa do sacrifício de empresários, trabalhadores,
aposentados e outros indefesos integrantes da sociedade, aos quais não é dado o
mínimo direito de opinar.
A verdade é que não dá para comparar atitudes de governantes
que se inspiram em Sócrates, Platão, Aristóteles e outros grandes filósofos,
com as daqueles que se pautam pela doutrina petista e os ensinamentos dos
marqueteiros que hoje dominam nosso país. Mais fácil, ao que parece, seria
conciliar gregos e troianos. E olhe lá!!!
- Diário do Rio Doce
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