quinta-feira, 28 de setembro de 2017

FUSO CONTROVERSO

Por Etelmar Loureiro

            Desde a sua efetivação, o horário de verão tem gerado polêmica entre os brasileiros. Se alguns o apreciam, outros se dividem entre os que não gostam, os que detestam e os que abominam sua existência. Há ainda os que aplaudem sua chegada, apenas para sentir o prazer de festejar seu término.
            Instituído em 1931, pelo então presidente Getúlio Vargas, houve períodos em que ele não foi adotado. Após l985, entretanto, firmou-se, nos estados brasileiros do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
            Em linhas gerais, o programa consiste em adiantar em uma hora os relógios, para economizar energia elétrica. Sua duração é de outubro a fevereiro do ano seguinte.
            No verão, o consumo se eleva, sobretudo em torno das 18 horas. É quando, de volta a aos seus lares, as pessoas ligam luzes, chuveiros e aparelhos eletrodomésticos, no momento em que também a iluminação pública é acionada. Esse súbito aumento da demanda pode desestabilizar o sistema elétrico. Com a iluminação natural ainda presente, a mudança de horário contribui para que a ativação das luzes de rua seja retardada e não coincida com a chegada dos trabalhadores em casa.  Assim, o aumento da demanda se dá de forma mais gradual, melhorando a segurança do sistema. A explicação é do Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável por essa área
            Satisfeito, ou não, o povo, assimilou o processo. Mas sempre questiona a relação custo/benefício entre a economia de energia obtida e os transtornos que isso acarreta.
            Passados muitos anos, recente estudo do ONS e do Ministério de Minas e Energia concluiu que o horário de verão traz efeitos “próximos à neutralidade” no consumo de eletricidade. Ou seja, o programa perdeu a razão de ser.
Em termos financeiros, ele também não se justifica. Qualquer economia de milhões seria irrisória, comparada aos prejuízos que a Eletrobrás tem sofrido nos últimos tempos, por má gestão e muita roubalheira. Só no governo de Dilma Rousseff, R$ 31 bilhões foram pro ralo.
      Numa aparente tentativa de desviar as atenções hoje voltadas para as graves denúncias que pesam sobre alguns de seus principais integrantes, o governo anunciou estudos voltados para a abolição o programa. Falou até numa inusitada enquete nas redes sociais, para deliberar sobre o assunto.
Mas tudo não passou de alarme falso.  O fogo de palha apenas atiçou as opiniões contrárias ao programa, fartamente postadas nos sites de relacionamento. O governo decidiu manter o esquema, pelo menos neste ano. Na avaliação de ministros de Estado e de líderes da base aliada, corroborada por Michel Temer, o horário de verão já se incorporou à cultura do brasileiro. Encerrá-lo poderia causar desgastes desnecessários para o Planalto.
Embora haja promessas nesse sentido, é improvável que tema volte a ser discutido pela atual administração, que se despede no próximo ano. Mas, independentemente de quem o faça, e de quando isso aconteça, seria de considerar que o Brasil se situa numa área tropical onde a duração dos dias e as temperaturas não variam muito durante o ano. Por isso, independente de rótulo, seria interessante estabelecer-se um horário válido para os doze meses, facilitando que as pessoas a ele se adaptem definitivamente, sem os transtornos biológicos de que hoje são vítimas no começo e no fim de simples temporadas.

Fato é que o novo horário estará em vigor a partir do próximo dia 15, e com ele teremos de conviver até 18 de fevereiro do ano que vem. O consolo está em um velho ditado, segundo o qual “Deus ajuda quem cedo madruga”. Que seja verdade!  

- Diário do Rio Doce - 28.09.2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário