quinta-feira, 26 de outubro de 2017

EFEITO CATALUNHA

Por Etelmar Loureiro

            Focado no alheio, o brasileiro às vezes não se dá conta do que acontece em seu próprio território. Ainda agora, com as atenções voltadas para a Espanha, palco de nova queda de braço pela emancipação política da Catalunha, quase ninguém percebeu mais uma explícita demonstração de que sonhos separatistas são também acalentados no Brasil.
            No início deste mês (07), os moradores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná foram outra vez consultados sobre se gostariam de se separar do restante do país. A sondagem, batizada de Plebisul, foi a segunda promovida pelo movimento “O Sul é Meu País”, que esperava recolher de 2 a 3 milhões de opiniões. Por diversas razões, inclusive má divulgação, houve apenas cerca de 365 mil votantes que, na sua quase totalidade (96,26%), responderam “sim”. O resultado ficou bem abaixo do contabilizado em 2016, quando o número de participantes beirou 620 mil. Ainda assim, os organizadores da pesquisa se disseram satisfeitos. Isso porque quem votou também subscreveu o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) que proporá a realização de um Plebiscito Consultivo Oficial, junto com as eleições de 2018, a respeito da emancipação do Sul. A meta era obter quantidade de assinaturas necessárias para impulsionar o projeto (1% dos 21,2 milhões de pessoas aptas a votar na última eleição), o que teria acontecido.
            Fundado em 1992, “O Sul é Meu País” é uma instituição legalmente estabelecida, que objetiva “viabilizar a emancipação política e administrativa dos três estados do Sul, de forma pacífica e democrática”.  Tem sede em Passo Fundo, e representações em vários municípios sulistas. Seus dirigentes se dizem conscientes de que as consultas promovidas pelo movimento são informais, sem qualquer valor legal. Também sabem que uma divisão do território brasileiro seria inadmissível, pois, segundo a Constituição nacional, o Brasil é uma “união indissolúvel” de seus Estados, Municípios e do Distrito Federal. O tema é uma cláusula pétrea, impossível de ser modificada.
            Pelos que não o apoiam, o movimento costuma ser apontado como vendedor de ilusões, patrono de utopias, ou apenas delirante. Seus muitos adeptos, entretanto, identificam nele o oxigênio que mantém viva a esperança de emancipação que, desde o século XVIII, está alojada na alma sulista. Um ideal que se fez presente na Guerra dos Farrapos (1835 a 1845), na Revolução Federalista (1893 a 1895) e em outros memoráveis episódios da história daquela região. O presidente do grupo, Celso Deucher, rebate as críticas dizendo que “pode ser um sonho; mas tem muita gente sonhando junto”.         
          Fértil, por natureza, a imaginação ignora fronteiras e ganha dimensões mais ousadas, quando centrada em independência e liberdade. E os que alimentam esse desejo sabem que a conquista é difícil. A “prima facie”, a autonomia não vem de mão beijada, de forma consentida, ou por acordo de cavalheiros entre governantes e governados. De modo geral, a disputa é árdua, dolorosa, desgastante, e nem sempre bem-sucedida. Requer habilidade, determinação, perseverança e muita paciência. Seriam essas as melhores armas para enfrentar os que naturalmente resistem em abrir mão de seus domínios.
            Em termos de apoio de massa, o movimento “O Sul é Meu Pais” não se equipara ao que ora acontece na Espanha. Está numa fase incipiente, sem envolver confrontos de qualquer natureza. Mas, se os catalães lograrem êxito em sua pretensão, não fica descartada a hipótese de o efeito Catalunha repercutir não só no Brasil, mas também em outros países americanos, onde as ideias separatistas são tão antigas quanto o seu surgimento. É esperar pra ver!

- Diário do Rio Doce

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