Por Etelmar Loureiro
Certos temas são maçantes, desagradáveis, indesejáveis, mas inevitáveis.
Recorrentes por natureza, estão sempre na ordem do dia, “esquentando” todos os
noticiários. É o caso dos acidentes de trânsito.
Em maior ou menor
dimensão, eles acontecem diariamente. Entretanto, é nas épocas festivas,
presumidamente mais alegres, que as tragédias se multiplicam, desmanchando
prazeres e enlutando famílias e comunidades. A explicação estaria no fato de
serem períodos que envolvem muitas mobilizações e longas caminhadas, em busca
de entretenimento e confraternizações.
Durante a recente temporada de Natal e réveillon, aconteceram nas estradas
federais perto de 2,4 mil acidentes, com cerca de 440 mortos e mais de 2.300
feridos. O balanço apresentado pela Polícia Rodoviária Federal mostra que as
ocorrências diminuíram, em comparação com o ano anterior. Ainda assim, são
números assombrosos e inaceitáveis, superiores aos contabilizados em muitos
casos de epidemias, tragédias ambientais e conflitos armados. Não merecem
celebração.
Dividindo espaço com aqueles festejos, existem as férias, que neste ano se
prolongarão até pelo menos meados de fevereiro, após o término do Carnaval.
A corrida à procura de repouso e prazer aumenta a circulação nas estradas e
eleva a reunião de pessoas nas praias, nas estâncias hidrominerais e em outros
pontos turísticos. É quando o bicho costuma pegar, pra valer.
O
fluxo de veículos cresce consideravelmente, e as pistas são tomadas por
motoristas que dirigem muito bem nas ruas e avenidas urbanas, mas são
inexperientes nas rodovias. As consequências costumam ser diabólicas.
Some-se a isso o
maior consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, além de imprudências ao
volante, ingredientes perfeitos para finais melancólicos.
As autoridades
procuram ser criteriosas na análise desse cenário, apontando com precisão as
causas das tragédias. Chegam a discriminar o percentual de cada uma. De modo
geral, elas se dividem entre ultrapassagens irregulares (campeãs absolutas),
excesso de velocidade e direção após o consumo de álcool.
Não se vê,
entretanto, qualquer estatística oficial dando conta do percentual de acidentes
causados pelas estradas obsoletas, esburacadas, mal sinalizadas, sem adequada
fiscalização e congestionadas por uma frota de veículos que cresce
descontroladamente, afora outras deficiências que cabe ao poder público sanar.
Na quase totalidade dos desastres, a culpa recai sobre um determinado
motorista, acusado de excesso de velocidade, ultrapassagem em local proibido,
embriaguez ao volante e outras loucuras.
Sem intenção de
defender os infratores motorizados, é tempo de compartilhar responsabilidades.
Não é possível que as autoridades responsáveis pela boa qualidade das estradas,
independentemente dos cargos que ocupem, permaneçam isentas das punições
aplicáveis aos cidadãos comuns, quando elas não fazem a sua parte. Em tais
circunstâncias, tanto quanto os demais infratores das leis, esses agentes
públicos são criminosos que merecem ser duramente punidos, por omissão,
negligência, indiferença e desrespeito à vida.
A estação do lazer
está em curso. O Carnaval bate às portas. Viagens de ida e vinda estarão
ocorrendo a todo o momento, chova ou faça sol.
Tudo faz crer que o “salve-se quem puder” continuará sendo a lei maior.
Fatalidades
são incontroláveis, mas há formas de tentar evitá-las, ou de, quando
nada, minimizar suas consequências. Uma delas é conscientizar-se de que o risco
existe, e não é pequeno. Fuja dele; o ganho será seu!
- Diário do Rio Doce - 18.01.2018
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