segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

CULPAS DIVIDIDAS

Por Etelmar Loureiro
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            Certos temas são maçantes, desagradáveis, indesejáveis, mas inevitáveis. Recorrentes por natureza, estão sempre na ordem do dia, “esquentando” todos os noticiários. É o caso dos acidentes de trânsito.
Em maior ou menor dimensão, eles acontecem diariamente. Entretanto, é nas épocas festivas, presumidamente mais alegres, que as tragédias se multiplicam, desmanchando prazeres e enlutando famílias e comunidades. A explicação estaria no fato de serem períodos que envolvem muitas mobilizações e longas caminhadas, em busca de entretenimento e confraternizações.
            Durante a recente temporada de Natal e réveillon, aconteceram nas estradas federais perto de 2,4 mil acidentes, com cerca de 440 mortos e mais de 2.300 feridos. O balanço apresentado pela Polícia Rodoviária Federal mostra que as ocorrências diminuíram, em comparação com o ano anterior. Ainda assim, são números assombrosos e inaceitáveis, superiores aos contabilizados em muitos casos de epidemias, tragédias ambientais e conflitos armados. Não merecem celebração.
            Dividindo espaço com aqueles festejos, existem as férias, que neste ano se prolongarão até pelo menos meados de fevereiro, após o término do Carnaval.
            A corrida à procura de repouso e prazer aumenta a circulação nas estradas e eleva a reunião de pessoas nas praias, nas estâncias hidrominerais e em outros pontos turísticos. É quando o bicho costuma pegar, pra valer.
          O fluxo de veículos cresce consideravelmente, e as pistas são tomadas por motoristas que dirigem muito bem nas ruas e avenidas urbanas, mas são inexperientes nas rodovias. As consequências costumam ser diabólicas.
Some-se a isso o maior consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, além de imprudências ao volante, ingredientes perfeitos para finais melancólicos.
As autoridades procuram ser criteriosas na análise desse cenário, apontando com precisão as causas das tragédias. Chegam a discriminar o percentual de cada uma. De modo geral, elas se dividem entre ultrapassagens irregulares (campeãs absolutas), excesso de velocidade e direção após o consumo de álcool.
Não se vê, entretanto, qualquer estatística oficial dando conta do percentual de acidentes causados pelas estradas obsoletas, esburacadas, mal sinalizadas, sem adequada fiscalização e congestionadas por uma frota de veículos que cresce descontroladamente, afora outras deficiências que cabe ao poder público sanar. Na quase totalidade dos desastres, a culpa recai sobre um determinado motorista, acusado de excesso de velocidade, ultrapassagem em local proibido, embriaguez ao volante e outras loucuras.
Sem intenção de defender os infratores motorizados, é tempo de compartilhar responsabilidades. Não é possível que as autoridades responsáveis pela boa qualidade das estradas, independentemente dos cargos que ocupem, permaneçam isentas das punições aplicáveis aos cidadãos comuns, quando elas não fazem a sua parte. Em tais circunstâncias, tanto quanto os demais infratores das leis, esses agentes públicos são criminosos que merecem ser duramente punidos, por omissão, negligência, indiferença e desrespeito à vida.
A estação do lazer está em curso. O Carnaval bate às portas. Viagens de ida e vinda estarão ocorrendo a todo o momento, chova ou faça sol. 
           Tudo faz crer que o “salve-se quem puder” continuará sendo a lei maior.
 Fatalidades são incontroláveis, mas há formas de tentar evitá-las, ou de,  quando nada, minimizar suas consequências. Uma delas é conscientizar-se de que o risco existe, e não é pequeno. Fuja dele; o ganho será seu!

- Diário do Rio Doce - 18.01.2018




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