Por
Etelmar Loureiro
Se para elas a disputa só começará no próximo dia 14, faz tempo
que as 32 seleções da Copa vêm sendo frenética e intensamente disputadas. Seus
jogadores têm sofrido implacável perseguição; o Brasil e o resto do
mundo estão à sua procura.
São os colecionadores de figurinhas, que não descansarão enquanto não os
capturarem, um a um.
Incrível como certos hábitos atravessam o tempo, sem perder a magia, o encanto
e o poder de seduzir.
Os cromos da Copa
2018 mobilizam gente de qualquer idade, em várias partes do planeta. Homens,
mulheres, crianças, jovens, famílias inteiras se envolveram no processo. Todos
se apressam para completar suas coleções, de preferência antes de o campeonato
começar. Nessa corrida, valem negociações nos pontos de troca, locais de
trabalho, escolas, hospitais, consultórios, festas sociais, onde quer que seja.
Até em cultos e velórios surge alguém com uma listinha na mão, perguntando
pelos números que lhe faltam.
Conforme pesquisa
de mestrado do paulista Paulo Cezar Goulart, as primeiras figurinhas surgiram
na Europa, por volta de 1870. Vinham em maços de cigarros, igual apareceram no
Brasil, duas décadas depois.
Com o passar do
tempo, vinham também em balas e sabonetes, na forma de promoções tipo “achou
ganhou”. Encontradas, podiam ser trocadas por pequenos brindes. Foi a fase em
que, nas balas “Americanas”, começaram a surgir as figurinhas de jogadores de
futebol.
Inicialmente
guardadas soltas, as figurinhas só passaram a ter local próprio em 1934, quando
as balas “A Holandeza” lançaram o primeiro álbum.
Na metade do último
século, a figurinha deixou de ser brinde, para ser vendida.
“Craques do Campeonato Mundial de Futebol 1950” foi o primeiro álbum brasileiro
que tratou apenas de futebol; os anteriores misturavam vários
temas. Estranhamente, ele foi lançado meses depois que a Seleção Brasileira
perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã. Ainda assim fez
sucesso.
O
Brasil tornou-se líder no consumo e coleção do álbum de figurinhas da Copa do
Mundo. Dos quase 100 países onde o produto é comercializado, somos o campeão de
venda, atingindo mais que o dobro da Alemanha, a segunda colocada.
A cada 24 horas,
aqui são produzidos cerca de oito milhões de envelopes, cada um contendo cinco
cromos. Isso significa 40 milhões de figurinhas por dia, quantidade que tende a
diminuir à medida que se aproxima o início dos jogos na Rússia, quando maioria
dos colecionadores já terá completado seus álbuns.
Passada a Copa, elas
deverão sair de cena, deixando saudade. Poderão retornar daqui a dois anos, nos
Jogos Olímpicos, ou só no Mundial de 2022.
Sempre que surgem,
criam um clima contagiante. Têm o condão de mostrar o quanto é tênue o
meridiano que separa crianças e adolescentes, jovens e adultos. Chega a ponto
de fazer crer que essa distinção só existe na Lei, nada tendo a ver com a
personalidade e as características físicas de cada geração.
Como bem ressaltou
a antropóloga Cláudia Pereira, do Departamento Social de Comunicação da
PUC-Rio, “a febre (de colecionar figurinhas) está maior porque as fronteiras da
idade estão cada vez mais borradas por conta da expansão da idéia da juventude.
Nesse contexto, é permitido acessar a infância o tempo todo”. Ainda
segundo ela, “… é uma forma de (re)viver a infância, sem vergonha de ser
feliz”.
A propósito: faltam-me as do Neymar e do Cristiano Ronaldo ...
- Diário do Rio Doce - 24.05.2018
- Diário do Rio Doce - 24.05.2018
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