Por Etelmar Loureiro
- Diário do Rio Doce - 21.06.2018
Há muito venho
percebendo certo descaso de Valadares para com os fatos e personagens de sua
história. Eles são abundantes, às vezes épicos e empolgantes. Muitos,
entretanto, são desconhecidos, ignorados, ou estão relegados a um melancólico
esquecimento.
Impressões colhidas
junto à geração atual, sobretudo a camada mais jovem, têm se mostrado
preocupantes. Para se ter uma ideia, muitos não sabem que o nome do bairro SIR
representa uma homenagem a Sotero Inácio Ramos, o empresário que durante muitos
anos instalou e manteve os melhores cinemas da cidade. Também ignoram que Vila
Isa seja um tributo à Imapebra S.A, a indústria de madeira e pecuária que foi
uma das maiores expressões locais no ramo.
Com relação a
pessoas, o desconhecimento é ainda mais inquietante. A maior parte dos
pioneiros, dos responsáveis pelo surgimento e pela consolidação da cidade, já
se foi. Dos poucos remanescentes, ainda há quem possa falar da epopeia
desbravadora, dos obstáculos enfrentados e das vitórias conquistadas. Mas não
lhes resta muito tempo e muito fôlego para testemunhar, nem para aguardar o
reconhecimento a que fazem jus.
O tempo passa e as
baixas se tornam mais constantes. Os heróis do passado se despedem, abrindo
espaço para novas ideias e lideranças.
Essa renovação é
compreensível, faz parte do ciclo humano. Reprovável é a súbita amnésia que se
apossa da comunidade, a ponto de o passado ser rapidamente esquecido.
E esse destino tem
sido inexorável. Dos mais modestos aos mais notáveis, todos tendem a cair no
ostracismo.
É o que está
acontecendo com Hermírio Gomes da Silva. Cidadão de méritos
indiscutíveis e um currículo que dispensa galanteios, ele foi um dos ícones de
sua época. Homem de visão, perseverante e otimista, era requisitado nas mais
diferentes áreas. Sua marca está em quase tudo que se fez pelo desenvolvimento
de Valadares. Consagrou-se como vereador, vice-prefeito, prefeito por duas
vezes, presidente da Associação Comercial, diretor da Univale, um dos
fundadores do Diário do Rio Doce, da Companhia Telefônica e da Fundação
Percival Farquhar, diretor da Fadivale, e muito mais. Até agora, entretanto,
nada disso lhe valeu uma homenagem pública. Nenhuma rua ou avenida, nenhuma
praça, nem mesmo um beco ou um banco de jardim leva seu nome. Inclusive a data
de sua morte tem passado em branco. Se sua memória recebeu alguma homenagem em
anos anteriores, foi coisa discreta e reservada, incondizente com seus valores.
Situação imperdoável, que se repete em relação a outros vultos da história
local.
Hermírio faleceu em
18.06.2009. Significa dizer que no próximo ano esse lamentável
acontecimento completará sua primeira década. Seria a grande chance de a cidade
se redimir da desatenção que vem dispensando a esse ilustre cidadão.
Em se tratando de
vulto tão proeminente, ainda que desprovido de vaidades, teria que ser uma
homenagem à altura do que ele fez e representa para a cidade. Evidentemente,
não se cogitaria substituir pelo seu o nome da Avenida Minas Gerais, ou algo
parecido. Mas também não seria justo tributá-lo com um marco de pouca
visibilidade, fora do meio em que sobressaiu.
Ressalvado melhor
juízo, poder-se-ia dar o seu nome à tradicional e consagrada Praça de Esportes
situada no centro da cidade, que, aliás, embora exista há várias décadas, nunca
teria sido batizada.
Reverenciar o passado é tão
necessário quanto perseguir o futuro. Afinal, os jovens de ontem são os adultos
de hoje e os saudosos de amanhã. Se não souberem valorizar seus antecessores,
os notáveis do presente serão os esquecidos do futuro.
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