quinta-feira, 5 de julho de 2018

CHANCE DE SE REDIMIR

Por Etelmar Loureiro

- Diário do Rio Doce - 21.06.2018

Há muito venho percebendo certo descaso de Valadares para com os fatos e personagens de sua história. Eles são abundantes, às vezes épicos e empolgantes. Muitos, entretanto, são desconhecidos, ignorados, ou estão relegados a um melancólico esquecimento.
Impressões colhidas junto à geração atual, sobretudo a camada mais jovem, têm se mostrado preocupantes. Para se ter uma ideia, muitos não sabem que o nome do bairro SIR representa uma homenagem a Sotero Inácio Ramos, o empresário que durante muitos anos instalou e manteve os melhores cinemas da cidade. Também ignoram que Vila Isa seja um tributo à Imapebra S.A, a indústria de madeira e pecuária que foi uma das maiores expressões locais no ramo.
Com relação a pessoas, o desconhecimento é ainda mais inquietante. A maior parte dos pioneiros, dos responsáveis pelo surgimento e pela consolidação da cidade, já se foi. Dos poucos remanescentes, ainda há quem possa falar da epopeia desbravadora, dos obstáculos enfrentados e das vitórias conquistadas. Mas não lhes resta muito tempo e muito fôlego para testemunhar, nem para aguardar o reconhecimento a que fazem jus.
O tempo passa e as baixas se tornam mais constantes. Os heróis do passado se despedem, abrindo espaço para novas ideias e lideranças.
Essa renovação é compreensível, faz parte do ciclo humano. Reprovável é a súbita amnésia que se apossa da comunidade, a ponto de o passado ser rapidamente esquecido.
E esse destino tem sido inexorável. Dos mais modestos aos mais notáveis, todos tendem a cair no ostracismo.
É o que está acontecendo com Hermírio Gomes da Silva.  Cidadão de méritos indiscutíveis e um currículo que dispensa galanteios, ele foi um dos ícones de sua época. Homem de visão, perseverante e otimista, era requisitado nas mais diferentes áreas. Sua marca está em quase tudo que se fez pelo desenvolvimento de Valadares. Consagrou-se como vereador, vice-prefeito, prefeito por duas vezes, presidente da Associação Comercial, diretor da Univale, um dos fundadores do Diário do Rio Doce, da Companhia Telefônica e da Fundação Percival Farquhar, diretor da Fadivale, e muito mais. Até agora, entretanto, nada disso lhe valeu uma homenagem pública. Nenhuma rua ou avenida, nenhuma praça, nem mesmo um beco ou um banco de jardim leva seu nome. Inclusive a data de sua morte tem passado em branco. Se sua memória recebeu alguma homenagem em anos anteriores, foi coisa discreta e reservada, incondizente com seus valores. Situação imperdoável, que se repete em relação a outros vultos da história local.
Hermírio faleceu em 18.06.2009.  Significa dizer que no próximo ano esse lamentável acontecimento completará sua primeira década. Seria a grande chance de a cidade se redimir da desatenção que vem dispensando a esse ilustre cidadão.
Em se tratando de vulto tão proeminente, ainda que desprovido de vaidades, teria que ser uma homenagem à altura do que ele fez e representa para a cidade. Evidentemente, não se cogitaria substituir pelo seu o nome da Avenida Minas Gerais, ou algo parecido. Mas também não seria justo tributá-lo com um marco de pouca visibilidade, fora do meio em que sobressaiu.
Ressalvado melhor juízo, poder-se-ia dar o seu nome à tradicional e consagrada Praça de Esportes situada no centro da cidade, que, aliás, embora exista há várias décadas, nunca teria sido batizada.
Reverenciar o passado é tão necessário quanto perseguir o futuro. Afinal, os jovens de ontem são os adultos de hoje e os saudosos de amanhã. Se não souberem valorizar seus antecessores, os notáveis do presente serão os esquecidos do futuro.

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